16/5, domingo, às 16h, no YouTube do CCSP

O Samba do Crioulo Doido é uma performance com história. Concebida e interpretada por Luiz de Abreu, a obra estreou em 2004 no Itaú Cultural e foi remontada recentemente, com o bailarino pernambucano Calixto Neto a convite do Panorama Festival de Dança e do Centre National de la Danse. Na apresentação, a bandeira do Brasil é pano de fundo para um corpo negro que, no ritmo do samba, transgride, resiste e se afirma.

O CCSP realiza uma programação dividida em três partes. Na primeira parte, às 16h, será exibido na íntegra o vídeo que registrou a estreia desta performance, ainda em 2004. Em seguida, haverá uma roda de conversa entre Luiz de Abreu, Calixto Neto e Ayrson Heráclito sobre os contextos de criação e remontagem da performance, bem como a transmissão da herança pessoal e cultural através dos corpos. Na terceira e última parte, será transmitido o documentário O Samba do Crioulo Doido: Régua e Compasso, filmado em 2020 durante o processo de remontagem da obra.

Dezessete anos atrás o Brasil era outro, assim como a dança contemporânea.

O samba do crioulo doido foi criado por Luiz de Abreu, em 2004, contemplado pelo programa Ru-mos Itaú Cultural Dança. Dividindo a cena com mais 13 obras selecionadas pelo programa, O Samba explodiu. Muitíssimo bem recebido pelo público da sala Itaú Cultural, basicamente for-mado por artistas, programadores, teóricos e críticos de dança, intuímos que aquela obra era uma revolução.

Até então, pelos menos esse público de 250 pessoas, não tinha presenciado a dimensão de um gesto individual tão cortante, desconcertante e belo, feito por um artista preto, no palco de uma instituição financeira na Avenida Paulista.

Muitos tabus foram expostos. Um homem frontalmente nú apenas calçado com botas prateadas de uma bicha morta por HIV; um homem negro fazia isso, uma bicha que ousava fazer isso com o tecido da bandeira do Brasil enfiado no cú. Uma bicha preta nua em cena a escancarar a re-sistência do corpo negro, a escancarar a objetificação desse corpo ao longo da história, a apontar o dedo para os colonizadores brasileiros e europeus. Só em cena, sustentando uma postura polí-tica e artística. Se hoje vemos artistas afirmando-se dessa maneira, o que Luiz fez, em 2004, era inaugural.

Viajou o Brasil, escandalizou o Brasil, chegou até o Parque Nacional da Serra da Capivara no es-tado do Piauí, apresentou-se no festival Interartes que buscava patrocínio para o Museu do Homem Americano. O Samba foi programado para o segundo dia do festival de forma que o gov-ernador do Estado, sua esposa evangélica e comitiva não vissem o trabalho. Aconteceu de não irem na abertura e sim no dia da apresentação do Samba. Foi a última edição do festival.

E não parou de andar. Entusiasmados curadores brasileiros e europeus sentiam-se corajosos por mostrar tal trabalho e orgulhosos por chocar o público conservador.

O Samba foi apresentado por Luiz por uma década. Em 2017 o solo foi remontado no corpo do bailarino baiano Pedro Ivo dos Santos e apresentaram-se em Salvador, Recife, Brasília e Campi-nas.

A onda reacionária forjada no Brasil em 2019 provocou o cancelamento de apresentações já pau-tadas, devido ao medo de instituições frente ao ódio bolsonarista.

Em 2020, a convite do Panorama Festival de Dança do Rio de Janeiro em parceria com o Centre National de la Danse, de Paris, O samba foi novamente remontado, dessa vez com o bailarino pernambucano Calixto Neto. Estreou em Paris e foi apresentado em outras cidades francesas, na Suíça e na Finlândia. A turnê européia foi interrompida devido à pandemia da Covid 19.

Um filme de 15 min foi criado mostrando o processo de transmissão de Luiz para Calixto com a colaboração de Pedro Ivo. Luis padece atualmente de grande limitação na visão. No filme o vemos criando um caminho de comunicação com as mãos e as palavras. Tocando o corpo de Ca-lixto sente o tempo, a musculatura e o movimento do Samba passar para outro corpo negro.

No programa O dia seguinte (ao 13 de maio), queremos falar dessa obra que tornou-se referência para a produção artística contemporânea. Discutir os contextos nos quais a obra foi criada e re-montada e refletir sobre a transmissão da herança pessoal e cultural através dos corpos.

O Crioulo Doido demole com seu samba o discurso branco sobre a escravidão abolida. Houvesse tido uma abolição e esse trabalho não existiria.

Curadoria: Sonia Sobral, curadora de dança do CCSP.

Exibição da filmagem da estréia da obra, em 2004, na Sala Itaú Cultural (20’).

Direção, performance, figurino, cenário e trilha sonora: Luiz de Abreu

Conversa com Luiz de Abreu, Calixto Neto e o artista visual, performer, professor e curador Ayrson Heráclito. Debate sobre os contextos nos quais a obra foi criada e remontada e refletir so-bre a transmissão da herança pessoal e cultural através dos corpos.

Exibição do documentário O Samba do Crioulo Doido: régua e compasso. (15’)

Realização e edição: Calixto Neto / Com: Calixto Neto, Luiz de Abreu, Jackeline Elesbão, Pedro Ivo Santos e Fabricia Martins.

Filmado em Salvador, Pantin e Reims (FRA) em 2020/ Apoio Institucional: Centre National de la Danse (FRA)

Informações do evento

Datas e Horários:
16 de maio de 2021 16:00 às 17:00 - Domingo

Entrada Gratuita

Classificações: livre

Acessibilidade: Sem Acessibilidade

Site: http://centrocultural.sp.gov.br/

Formato do Evento: Presencial

Local: Online

Endereço: Online