O RecorDança, acervo digital que há 19 anos é voltado para a produção de conhecimento, preservação e difusão da memória das danças pernambucanas, lança na sexta-feira (16/12) novos conteúdos no site acervorecordanca.com. Pesquisadores, dançarinos, entusiastas e demais interessados poderão ter acesso a uma compilação de textos, artigos, vídeos, fotos, recortes, biografias, documentos, cartazes, folhetos, entre outros registros reunidos pela equipe de sete pesquisadoras do RecorDança: Ailce Moreira, Elis Costa, Ju Brainer, Liana Gesteira, Roberta Ramos, Taína Veríssimo e Valéria Vicente. O coletivo realizará uma live às 11h no perfil do Instagram @acervorecordanca para o lançamento do material.

Nessa live, as pesquisadoras vão contar um pouco sobre a continuidade da inserção dos registros históricos do acervo no site novo, com conteúdos que foram revisados ou atualizados. Esse material é referente ao projeto “Recordança 15 anos: recuperação e salvaguarda”, que recebeu incentivo do Funcultura.

Além disso, nesta nova fase de ampliação do acervo, será inaugurada a seção “Pesquisas Aliadas” que, segundo as pesquisadoras do coletivo, é um desejo de multiplicar as vozes que narram as histórias da dança de Pernambuco. Foram convidados artistas pesquisadores das quatro macrorregiões do Estado para contribuir com recortes específicos de narrativas das danças a partir de seus territórios, em textos e fotografias. São eles: Nortess Coletivo de Dança (Igarassu – Região Metropolitana do Recife), Peu do Maracatu (Goiana – Zona da Mata Norte), Interior Coletivo (Belo Jardim – Agreste) e Daiane Nonato (Triunfo – Sertão). 

Além dos conteúdos disponibilizados pelos artistas convidados, as integrantes do RecorDança também terão suas pesquisas pessoais publicadas no acervo digital. Em cinco produções textuais, as pesquisadoras traçam pontes temporais entre documentos catalogados durante estes 19 anos de atividades do coletivo e obras do momento atual e histórico das danças pernambucanas, com o intuito de estabelecer uma rede de reflexão sobre registros já existentes no acervo e as narrativas construídas em 2021 e 2022. Esses conteúdos foram produzidos dentro do contexto do projeto “RecorDança: manutenção, acessibilidade e criação de redes em Pernambuco”, com apoio do Funcultura. 

Pesquisas aliadas

Entre os materiais que serão inseridos na nova seção “Pesquisas Aliadas”, está um vídeo do Interior Coletivo com trechos do espetáculo “O idioma das árvores”. Trata-se do trabalho de retomada do Interior Coletivo após a pandemia, com gravações de ensaios da obra e narração ao fundo de bailarinos do Coletivo falando da sua relação com a dança.

Uma entrevista com Peu do Maracatu (Erivaldo Francisco), realizada remotamente pela pesquisadora Elis Costa sobre aspectos das danças do município de Goiana, Zona da Mata Norte de Pernambuco, em especial o Caboclinho, também será disponibilizada no site. 

Outro vídeo que será lançado é uma entrevista com integrantes e ex-integrantes do Nortess Coletivo de Dança. Nessa entrevista Janaina Santos, Gabriela Moura e Joel Carlos contam sobre suas trajetórias na dança e que se entrelaçam também com as histórias das danças de Igarassu. Cidade no Norte da Região Metropolitana do Recife, Igarassu abriga um celeiro de brinquedos da cultura popular como as baianas do maracatu, as personagens do cavalo marinho, as coquistas e os cirandeiros. 

O vídeo intitulado LÁ DO ALTO! também será inserido na seção “Pesquisas Aliadas” do site. É uma produção que traz recortes de vídeos e imagens de momentos das Cambindas percorrendo o Alto da Boa Vista na cidade de Triunfo, no sertão pernambucano. Cambinda Velha é uma manifestação popular, hoje descontinuada, que através do grupo “Cambindas de Triunfo” vem desenvolvendo um processo de reinvenção desta tradição.

Novas pesquisas do RecorDança

No texto “Lua, estrelas e noite inteira: um ensaio para o fim do RecorDança”, a pesquisadora Elis Costa resgata os registros existentes no Acervo sobre o Daruê Malungo e seus personagens, assim como as histórias desses registros, relacionando ao trabalho atual realizado pelo artista Orun Santana – em especial o documentário “Céu de Lua, Chão de Estrelas”. A escrita propõe uma reflexão sobre a necessidade de se pensar construção e cuidado com a memória da dança como uma tarefa de responsabilidade coletiva.

No artigo “Uma poética da audiodescrição ou Retratos que se repetem na nossa História”, a pesquisadora Juliana Brainer busca, utilizando o recurso da audiodescrição, desenvolver uma narrativa descritiva de imagens de um trabalho realizado na década de 80 e uma remontagem do mesmo em 2014, como uma análise sobre o lugar que bailarinos ocupam na nossa sociedade. Tal discussão nos leva aos dias atuais e como a nossa política vem tratando seus artistas. Ela diz que “momentos diferentes da História da Dança em nosso país também podem ser reconhecidos através de vestígios fotográficos de cada tempo”. 

O texto “Memória em metamorfose no trabalho do Grupo Totem”, da pesquisadora Taína Veríssimo, reflete sobre a ação de performar a própria memória, realizada pelo Grupo Totem em sua mais recente pesquisa. Ao revisitar registros de trabalhos do Totem, que podem ser encontrados no acervo, somam-se novos saberes para a geração do espetáculo ITAÊOTÁ. O ensaio é um exercício dos próprios agentes da dança contribuírem com a salvaguarda das memórias sobre si no acervo e, assim, compor uma trama de narrativas sobre as produções locais. 

O ensaio “Mulheres em dança: encontros e escutas”, pela pesquisadora Liana Gesteira, traz algumas experiências de trabalhos artísticos realizados, ou liderados, por mulheres da dança de Pernambuco, e apresenta como suas criações configuram um espaço de resistência em relação à opressão social, a privatização de seus corpos e a desvalorização do seu papel no campo do trabalho. O texto tece fios de conversa entre o projeto “Mãe Artista ou Artista Mãe” de Iara Sales; a performance “Objeto Mulher”, de Valéria Vicente e o projeto de podcasts “Histórias ao Pé do Ouvido” desenvolvido pelo Acervo RecorDança.

A pesquisadora Roberta Ramos Marques escreveu o artigo “Currículo como lugar de escuta: afeto, performatividade e emancipação de histórias da dança”, que também estará disponível no acervo. O texto aborda os tensionamentos observados no contexto educacional universitário brasileiro entre as ações afirmativas, como as políticas de cotas, e a falta de uma reformulação da “infraestrutura da vida branca”, conceito apresentado por Jota Mombaça, que sustenta as instituições educacionais. Considerando essa problemática, a pesquisadora propõe uma prática acadêmica a partir do que chama de currículo como lugar de escuta, através do reconhecimento e de possíveis reparações das relações de posicionalidade entre lugares de privilégios e lugares historicamente invisibilizados e silenciados.

Trajetória

O Acervo RecorDança iniciou suas atividades em 2003, a partir de um projeto de pesquisa e documentação. O objetivo era de catalogar, difundir e entrelaçar as mais plurais narrativas de sujeitos diversos da dança pernambucana, coexistentes em um mesmo período de tempo, ao contrário da ideia tradicional de que a história deve ser contada com base em fatos cronológicos e únicos. Na época, o lançamento do acervo mobilizou vários artistas da dança do estado na doação de materiais e concessão de entrevistas, bem como resultou em uma maior visibilidade para a classe artística. Recentemente, o coletivo lançou a nova plataforma digital do acervo, que já pode ser acessada (acervorecordanca.com) e está em constante processo de ampliação com a inserção de novos conteúdos. 

Informações do evento

Datas e Horários:
16 de dezembro de 2022

Entrada Gratuita

Classificações: livre

Acessibilidade: Sem Acessibilidade

Site: https://acervorecordanca.com/

Formato do Evento: Presencial

Local: Instagram

Endereço: @acervorecordanca