Crédito da foto: Diana Rietveld

Projeto contemplado pela 21ª edição do Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais do Município de São Paulo VAI, na modalidade II.

Sinopse: A história da primeira e única imperatriz travesti de Roma. Tal fabulação é o cerne do novo trabalho do Núcleo Experimental de Butô, que visa reivindicar como símbolo trans Heliogábala, figura controversa que governou o império romano do ano 218 ao 222. Livremente inspirada na obra de Antonin Artaud, a peça é uma festa trágica, uma orgia terrífica, um sonho intempestivo. Uma dança cujo intuito é reencantar os corpos a partir da força poética que há na instauração de imaginários outros, para além das habituais lógicas da hetero-cis-normatividade: um mundo onde as travestis não irão ocupar o trono, mas destruí-los, todos eles. Ninguém no topo. Todos lançados à terra vislumbrando a potência avassaladora de ser só carne. Um sonho que pode ser capaz de derrubar aquilo que ainda resta de Roma: a regulação dos corpos através de relações de poder pautadas no machismo e na misoginia, que acabam por eclodir numa miríade de fobias.

 

Dança-Teatro
Tempo de duração: 90 minutos.
Classificação indicativa: 18 anos.

Uma companhia de butô decide “fazer teatro”
pesquisa & criação de Heliogábala

Heliogábala: a anarquia coroada marca um ponto de inflexão no percurso do Núcleo Experimental de Butô. A companhia sempre se dedicou a um jogo de revolução através da dança, buscando libertar a vida dos sistemas de poder que a sitiam. Agora, essa insurgência se expande em direção ao teatro, friccionando as delimitações habituais das artes da cena.

Tatsumi Hijikata (1928-1986), dançarino e coreógrafo japonês fundador do Ankoku Butô, foi o alicerce das pesquisas e criações do Núcleo por dez anos. Agora, chegou o momento de convocar Antonin Artaud (1896-1948), dramaturgo, poeta, ator e teórico francês, conhecido por sua contribuição ao teatro moderno.

Em suas vidas, esses dois anarquistas do corpo se interessaram por uma mesma figura: Heliogábala. De origem síria, nasceu envolta em magia, foi consagrada sacerdotisa do deus Sol, tornou-se imperatriz aos catorze anos e entrou triunfalmente em Roma, de costas, acompanhada por genitais gigantes. Morreu, quatro anos depois, assassinada em uma latrina pública por um golpe militar. Apesar de seu curto reinado, entrou para a história como um símbolo de transgressão, em especial por sua liberdade sexual, suas vacilações identitárias e terrorismos de gênero que desafiaram um império fundado sobre machismo, binarismo e misoginia.

Tal conexão – Heliogábala, Artaud, Hijikata – possibilitou a criação de um espetáculo onde as imagens não buscam significar, mas fazer sentir. Isso porque, para Artaud e Hijikata, o teatro e a dança não tratam de simular a mímese de esquemas realísticos. O que interessava a ambos eram as experiências capazes de presentificar forças e fluxos, onde o corpo em cena deixa de ser um veículo de discursos pré-estabelecidos e torna-se um estimulador de afecções.

O espetáculo oscila abruptamente entre cenas que recusam à lógica da representação e corêuticas rigorosas, mas hipnóticas. Um rigor mais próximo do que se vive em ritos de possessão e expurgo, e não nos balés. Isso porque o trabalho mira em gerar experiências psicofísicas e políticas, produzindo abalos capazes de transformar mundos.

A iluminação, elemento central do espetáculo, não é apenas um recurso técnico. Toda a luz é gerida pelos próprios dançarinos, que se tornam responsáveis por iluminar e entenebrecer o espaço. Em uma dinâmica contínua de revelação e ocultamento, as cenas se transformam ininterruptamente. O constante jogo de luz e trevas, profundamente caro a Artaud e Hijikata, está nas mãos de quem de fato possibilita que o espetáculo seja um ato de transformação.

Surge a palavra falada, evento raro em companhias que estudam butô. Ela se faz necessária na ressureição de Heliogábala nos palcos da História, que precisa ser contada, mas pelo avesso. Para isso a companhia trabalhou com a estratégia de dançar com a voz, compreendendo que voz é corpo. No entendimento de Hijikata, a palavra é uma matéria que emerge do corpo, como pus expelido da carne. Ele descia dentro do corpo, recolhia traços e fluxos e eram estes que o artista reinjetava nas palavras. A tarefa do elenco foi então a de dar carne às palavras, não significando-as, mas dispondo-as como corpos que fazem vibrar os corpos do público, auxiliando-os a adentrar nos territórios sensíveis e atmosferas tensivas que constituem o corpo da peça.

Heliogábala e sua anarquia coroada é, para nós, uma força alquímica que reflete o duplo dos humanos: colapsa maniqueísmos ao afirmar a glória da ambivalência. Diante um império de homens caducos, assentou-se no trono para erodi-lo. “Não se trata de tomar o poder, mas de expandir a potência”. Sua carne era a presentificação de caosmos avassalador, sem principio nem fim, insubmisso a qualquer categorização. Na ressaca das marés de todas essas forças, reivindica-se um fim diferente, não apenas para Heliogábala, mas para toda vivência travesti e trans-marginal.

Compreendemos a urgência de abordar tais temas a partir do campo da dança pois, quando essa é encarada para além das noções de linguagem, gênero ou estilo e passa a ser elaborada como dispositivo micropolítico do corpo, torna-se propiciadora de exercícios capazes de repensar as singularidades dos seres, enaltecendo suas subjetividades, convertendo estados de precariedade em potencial campo de resistência, transformação e combate, possibilitando mudanças que contribuam para a conquista de uma vida mais digna a pessoas vulneráveis ou que vivam em condições de vulnerabilidade.

A dança butô, cerne do trabalho do Núcleo, oferece estratégias para a criação de práticas de desestabilização dos sistemas de controle, dominação e extermínio, como também de conscientização e libertação dos corpos e dos desejos por meio da arte, abrindo possibilidades para uma vida menos cafetinada pelo sistema neoliberal, menos ceifada pelo colonialismo, mais crítica acerca dos esoterismos, racismos e antropocentrismos presentes no fazer artístico ocidental/ocidentalizado, angariando um genuíno viver, zelando pela saúde física e psíquica das comunidades, conquistando autonomia e liberdade.

 

O que diz(em) “A(s) História(s)” ?

Em 2023, o Museu North Hertfordshire passou a referir-se a Heliogábala pelos pronomes femininos, baseando-se em um relato atribuído ao senador e historiador romano Cassius Dio. Segundo ele, a imperatriz teria declarado: “não me chame de senhor, pois sou uma senhora”. Dio também descreve o uso de maquiagem, perucas e a remoção de pelos corporais — práticas frequentemente associadas, na época, à feminilização. Em um de seus cinco matrimônios, Heliogábala teria se casado com um ex-escravizado e cocheiro. No documento, o senador escreveu: “foi concedida em casamento, foi denominada esposa, amante e rainha”.

A interpretação desses registros, no entanto, está longe de ser consensual. O tema cruza história, gênero, sexualidade e política, e exige cautela diante das diferenças de concepção entre a Roma Antiga e a sociedade ocidental contemporânea. Para o museu, porém, a questão é simples: “ser educado e respeitoso em relação à identificação de pronomes para pessoas do passado”.

Se há um risco de anacronismo – isto é, a leitura de um elemento histórico utilizando conceitos de uma temporalidade distinta de sua época original –, há também uma urgência maior: reivindicar Heliogábala como símbolo trans não se trata apenas do risco de perverter interpretações do passado, mas de abrir caminhos para o presente. Dar visibilidade a essa existência é uma forma de potencializar vidas que ainda hoje são silenciadas, traçando paralelos entre a história dessa imperatriz e as vivências trans e dissidentes. Contra a narrativa hetero-cis-normativa, colonial e imperialista, que há séculos trabalha para soterrar corpos desviantes, pleitear essa perspectiva auxilia a reafirmar o óbvio: pessoas trans também gestaram e pariram a história do mundo.

 

Datas, horários e locais de apresentação:

26 de abril | Sábado | 20h
na FUNARTE
Al. Nothmann, 1058. Campos Elíseos
Sala Arquimedes Ribeiro

Saiba mais e retire seu ingresso clicando aqui
ou com 1 hora de antecedência na bilheteria.

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27 de abril | Domingo | 19h
na FUNARTE
Al. Nothmann, 1058. Campos Elíseos
Sala Arquimedes Ribeiro

participação especial de Aun Helden
com a fala A Iconoclastia do Fantasma

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ou com 1 hora de antecedência na bilheteria.

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02 de maio | Sexta-Feira | 19h30
no Tendal da Lapa
Rua Guaicurus, 1100. Água Branca
Espaço Circo

Retire seu ingresso com 1 hora de antecedência na bilheteria.

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03 de maio | Sábado | 20h
na FUNARTE
Al. Nothmann, 1058. Campos Elíseos
Sala Arquimedes Ribeiro

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ou com 1 hora de antecedência na bilheteria.

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04 de maio (Domingo) | 19h
na FUNARTE
Al. Nothmann, 1058. Campos Elíseos
Sala Arquimedes Ribeiro

participação especial de mayuri
com a fala ENLUTAR-SE-COM: gestos de presença com es mortes

Saiba mais e retire seu ingresso clicando aqu
ou com 1 hora de antecedência na bilheteria.

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08 de maio (Quinta-Feira) | 21h
no Teatro Paulo Eiró
Av. Adolfo Pinheiro, 765, Santo Amaro

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ou com 1 hora de antecedência na bilheteria.

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09 de maio (Sexta-Feira) | 19h30
no Tendal da Lapa
Rua Guaicurus, 1100, Água Branca
Espaço Circo

Retire seu ingresso com 1 hora de antecedência na bilheteria.

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16 de maio (Sábado) | 20h30
no Centro Cultural Diversidade
Rua Lopes Neto, 206, Itaim Bibi

participação especial de Gabs Ambrózia
com a fala Travesti na trama do tempo – bailando la vida y muerte

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ou com 1 hora de antecedência na bilheteria.

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17 de maio (Sábado) | 20h30
no Centro Cultural Diversidade
Rua Lopes Neto, 206, Itaim Bibi

participação especial de Ave Terrena
com a fala Traviarcados

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ou com 1 hora de antecedência na bilheteria.

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21 de maio (Quarta-Feira) | 20h
no Teatro Arthur Azevedo
Av. Paes de Barros, 955, Alto da Mooca
Sala Multiuso

Saiba mais e retire seu ingresso clicando aqui
ou com 1 hora de antecedência na bilheteria.

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22 de maio (Quinta-Feira) | 20h
no Teatro Arthur Azevedo
Av. Paes de Barros, 955, Alto da Mooca
Sala Multiuso

Saiba mais e retire seu ingresso clicando aqui
ou com 1 hora de antecedência na bilheteria.

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23 de maio (Sexta-Feira) | 20h
no Teatro Flávio Império
Rua Prof. Alves Pedroso, 600, Cangaiba

Saiba mais e retire seu ingresso clicando aqui
ou com 1 hora de antecedência na bilheteria.

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30 de maio (Sexta-Feira) | 20h30
no Centro Cultural Diversidade
Rua Lopes Neto, 206, Itaim Bibi

participação especial de Danilo Patzdorf
com a fala Pornografia, iconofilia e magia

Saiba mais e retire seu ingresso clicando aqui
ou com 1 hora de antecedência na bilheteria.

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31 de maio (Sábado) | 20h30
no Centro Cultural Diversidade
Rua Lopes Neto, 206, Itaim Bibi

participação especial de be rgb
com a fala a mística do bestiário não binário

Saiba mais e retire seu ingresso clicando aqui
ou com 1 hora de antecedência na bilheteria.

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01 de junho (Domingo) | 19h
no Centro Cultural Campo Limpo
Rua Aroldo de Azevedo, 100, Jardim Bom Refúgio

Retire seu ingresso com 1 hora de antecedência na bilheteria.

 

Ficha Técnica:

Dançarines: Alv Lara, Are Bolguese, Pedro Ribeiro, Petrovna e Vicco Gonçalves.
Direção e Dramaturgia: Thiago Abel.
Trilha Sonora: Vítor Marsula.
Figurino: Zeus Achetti.
Iluminação e Cenografia: Núcleo Experimental de Butô.
Fotografia: Diana Rietveld.
Cartaz: Uma Moric.
Contrarregragem: Laura Silvestroni e Uma Moric.
Produção: Pedro Ribeiro.
Convidades especiais: Aun Helden, Ave Terrena, be rgb, Danilo Patzdorf, Gabs Ambròzia, mayuri.

 

Núcleo Experimental de Butô: É um coletivo político-performático, existente desde 2014, que visa por meio de três frentes – pesquisa, criação e formação – um processo investigativo afinado às proposições reflexivas do fundador da Dança Butô, Tatsumi Hijikata, em busca de portas de acesso em direção a um fazer político-artístico em sintonia com os princípios e procedimentos de criação deste dançarino japonês após mais de trinta anos de seu falecimento, em outro contexto histórico, cultural e geográfico.

Ciente da impossibilidade de acessar a densidade e profundidade do projeto via o extenso material fílmico e fotográfico presente na internet, o Núcleo tem como objetivo deslocar a percepção daqueles que ainda se inquietam com o Ankoku Butô (Dança das Trevas) em direção a mídias reflexivas, atualizadas e atentas aos princípios iniciais do projeto, objetivando um porvir para além da ideia de dançar Butô, focado em um jogo de revolução através da dança, libertando-se dos sistemas de poderes que sitiam a vida, reiterando toda a densidade, intensidade e potencialidade da existência.

Em seus 10 anos de existência, produziu 17 obras em dança e performance, realizou 97 apresentações em 37 espaços, gerou 8 podcasts e publicou 1 livro sobre butô. Já recebeu 1152 pessoas – 721 paulistas, 370 brasileiros e 61 pessoas de outros países – em oficinas, palestras e mesas redondas cujo número de realizações já se perdeu a conta.

Principais participações em Festivais, Mostras e Eventos:

  • Mostra Experimentos do TUSP (2015)
  • 13ª Semana das Artes do Corpo da PUC-SP (2016)
  • Lançamento do livro Testo Junkie, de Paul Preciado, a convite da n-1 (2018)
  • 1º Festival Powlítico de Corpas Rebeldes, da Cia. dxs Terroristxs (2018)
  • 2º Festival Praga da Dança, do Coletivo Desvelo (2019)
  • 2º Festival Powlítico de Corpas Rebeldes (2021)
  • 2º Festival de Artes da Cidade de Matão (2022)

Informações do evento

Datas e Horários:
26 de abril de 2025 até 1 de junho de 2025

Entrada Gratuita

Classificações: 18 anos

Acessibilidade: Sem Acessibilidade

Capacidade de pessoas: 50

Telefone para contato: (11) 96460-6960

E-mail: [email protected] [email protected]

Formato do Evento: Presencial

Local: FUNARTE, Tendal da Lapa, Teatro Paulo Eiró, Centro Cultural da Diversidade, Teatro Arthur Azevedo, Teatro Flávio Império, CC Campo Limpo

Endereço: - São Paulo / SP - 01216-001

Localização: