Crédito da foto: Acervo Festival Movimentos Migrantes

O Festival “Movimentos Migrantes: dança e música afro-latina na cena carioca” nasce da trajetória de Mirian Miralles, dançarina e pesquisadora cubana radicada no Rio de Janeiro desde 2013. Ao longo desses anos, Mirian enfrentou desafios comuns a quem emigra: barreiras linguísticas e burocráticas, dificuldade de inserção no mercado de trabalho e, sobretudo, preconceitos e estereótipos raciais. Ao mesmo tempo, encontrou na cidade uma pulsante diversidade cultural que, muitas vezes, não é reconhecida ou valorizada.

A partir dessa vivência, e do diálogo constante com criadores afro-brasileiros, periféricos e da cultura popular, surgiu a necessidade de criar um espaço em que linguagens artísticas de resistência e de celebração das diásporas africanas e latino-americanas fossem colocadas no centro, garantindo visibilidade, legitimidade e oportunidade a artistas que fazem do Rio um território de múltiplas vozes.

Em parceria com o produtor cultural Luís Silva, também dançarino, pesquisador e diretor da produtora Coletivando Arte, o projeto ganhou corpo e se expandiu. O encontro entre Mirian e Luís foi determinante para que a proposta não se restringisse apenas às experiências da imigração, mas também abrangesse artistas periféricos e indígenas, criando uma plataforma que valorizasse a pluralidade estética e política que pulsa na cidade.

Juntos, idealizaram um festival que, além de dar espaço aos imigrantes afro-latinos, convida artistas brasileiros a se reconhecerem como parte do mosaico latino-americano, fortalecendo um senso de pertencimento frequentemente apagado no Brasil.

Desde o início, o festival foi idealizado para acontecer na Maré, território de enorme riqueza artística, cultural e política. Realizá-lo no Centro de Artes da Maré é uma escolha estratégica que busca colocar em evidência a potência criativa das periferias e descentralizar os espaços da cena cultural carioca, historicamente concentrados no centro da cidade. Nesse contexto, o Festival se propõe a estimular diálogos interculturais que atravessam fronteiras, rompem estigmas e criam novas possibilidades de encontro.

Mais do que um evento, o festival é fruto de uma responsabilidade ética e afetiva com comunidades historicamente marginalizadas. Ele nasce como um gesto de resistência às exclusões que ainda atravessam a vida de artistas afro-latinos, periféricos e indígenas, mas também como uma celebração das estéticas, saberes e práticas que esses artistas oferecem à cidade. Ao colocar a dança e a música no centro de sua proposta, o festival reafirma que essas expressões são também territórios de memória, identidade e futuro, onde diferentes diásporas: como africana, latina e indígena, se encontram, se reconhecem e se fortalecem.

O que é o festival

Nos dias 13, 14, 20 e 21 de setembro de 2025, o Centro de Artes da Maré vai se transformar em um grande palco de diversidade cultural com o Festival Movimentos Migrantes: dança e música afro-latina na cena carioca. Durante dois finais de semana, o espaço receberá uma programação intensa e gratuita que vai reunir espetáculos de dança, performances, mostra de videoarte e pocket shows, além de oficinas com artistas convidados de diferentes países. Será um encontro de linguagens, ritmos e saberes que vai celebrar a força da música e da dança afro-latina, aproximando públicos, territórios e tradições. Em todas as sessões haverá intérprete de libras.

As oficinas serão um dos grandes destaques do festival. Totalmente gratuitas e com inscrições disponíveis pelo link na bio do Instagram @movimentosmigrantes, elas vão reunir mestres da dança e da música vindos de Cuba, Brasil e Moçambique. Para ampliar o acesso, o festival oferecerá ajuda de custo para participantes que solicitarem e justificarem a necessidade — uma iniciativa pensada para incentivar a participação de artistas da periferia em atividades de formação e capacitação.

No dia 13 de setembro, acontecerá a oficina de dança afro-brasileira com percussão ao vivo, conduzida por Fábio Batista, diretor da Escola Carioca de Danças Negras e da Cia Clanm, diretor artístico da Estação Primeira de Mangueira e coreógrafo da União do Parque Acari. A aula propõe um mergulho na expressividade e nas técnicas das danças negras do Brasil, afirmando a dança como território de resistência e liberdade.
Em seguida, o público poderá acompanhar a mostra de videoarte com quatro trabalhos que transformam a tela em território de memória e poesia: Escavação (Alex Reis), Tem coisas que eu só sei dizer dançando (Juliane Cruz), Ponta Solta (Thaina Iná) e Um Por Todos (Luyd Carvalho).

No dia 14 de setembro, o percussionista Kaio Ventura, músico, compositor, capoeirista e ogan, conhecido por sua atuação como diretor musical do espetáculo Manifesto Elekó e com passagens por grupos como Kina Mutembua (Argentina), Ile Ofé, Makala e AfroReggae, ministra a oficina de percussão afro-brasileira. Reconhecido também por seu trabalho como educador social e diretor artístico em projetos voltados às danças negras, Kaio traz sua experiência para uma vivência que explora instrumentos, toques e cânticos da cultura afro-brasileira.

Logo depois, será apresentado o espetáculo Terreno Fértil, dirigido por Tuany Tomaz Nascimento, que parte das vivências e memórias de mulheres negras e periféricas para refletir sobre ancestralidade, território e resistência, em uma linguagem que une dança contemporânea, balé clássico, danças afro e urbanas.

No dia 20 de setembro, o músico e dançarino moçambicano Sumalgy Nuro irá conduzir uma oficina de percussão. Mestre em Música – Instrumentos Africanos e Performance pela Universidade da Cidade do Cabo, com carreira internacional ao lado de grandes nomes da dança e da música africana, Sumalgy traz uma vivência que conecta ritmos e instrumentos tradicionais de Moçambique às criações contemporâneas. A oficina desperta o ritmo que pulsa em cada participante, aproximando corpo e ancestralidade em um diálogo vivo entre tradição e invenção.

A programação segue à noite com performances artísticas que vão ocupar o palco com experimentação e potência criativa. Camila Daniel apresenta Saia, performance que revisita a saia como símbolo de poder e liberdade das mulheres negras nas Américas; Kley Hudson traz Mar REVOLTS, criação imersiva que convoca as forças do mar como metáfora de travessia, resistência e memória; e Rafo Avelino apresenta Sua Bença Mãe, trabalho que cruza dança, palavra e ritualidade em uma dramaturgia construída pela gestualidade cotidiana e pela presença da voz.

No dia 21 de setembro, acontecerá a oficina de dança afrocubana de Israel Valdés, ex-solista principal do Conjunto Folklórico Nacional de Cuba, que vai conduzir uma vivência vibrante de tambores, cantos e movimentos da cultura popular cubana.

À noite, o festival encerra as atividades com pocket shows: Kalebe apresenta Nossos Passos Vêm de Longe, espetáculo que celebra a herança da Música Preta Brasileira; o Movimento Cultural Jongo da Lapa traz Negro Veio de Além-Mar, roda-espetáculo de jongo que afirma a ancestralidade africana e a força da diáspora negra; a cantora Ilessi apresenta repertório autoral marcado por ancestralidade e pertencimento; e o grupo Negro Mendes coloca o público para dançar ao som da cadência contagiante da música afro-peruana, que mistura tradição popular, improvisação e influências do jazz. E como convidada a DJ Aiyra.

O “Festival Movimentos Migrantes: dança e música afro-latina na cena carioca” promete transformar a Maré em um território de encontros, celebrações e diálogos interculturais, afirmando a arte como força de resistência, memória e futuro.
Importância do Festival

O Festival Movimentos Migrantes afirma-se como uma iniciativa essencial para o fortalecimento da cena artística do Rio de Janeiro porque cria oportunidades reais de visibilidade e trabalho para artistas afro-latinos, periféricos, indígenas e brasileiros que enfrentam preconceito, estigmas e a falta de espaço nos circuitos tradicionais. Sua realização na Maré, no Centro de Artes da Maré, descentraliza o acesso à cultura, colocando em evidência um território historicamente reconhecido por sua riqueza artística, política e pela presença de migrantes de diferentes origens.

Além de reunir apresentações, o festival também promove inclusão em múltiplos níveis. Todas as atividades contam com intérprete de Libras, ampliando o acesso para pessoas surdas. Além disso, a equipe de produção é composta majoritariamente por artistas negros de diferentes regiões periféricas do Rio, pessoas trans e migrantes, reafirmando que a representatividade está presente tanto no palco quanto nos bastidores.

O próprio fato de ter sido idealizado por uma mulher estrangeira, em parceria com um produtor periférico, reforça sua vocação intercultural e plural.
Movimentos Migrantes se coloca, portanto, como um gesto coletivo de resistência e celebração: dá visibilidade a vozes historicamente silenciadas, fortalece redes de criação e coloca em diálogo múltiplas diásporas que compõem o Brasil. O Festival Movimentos Migrantes mostra que a cena artística carioca se fortalece quando acolhe a pluralidade de corpos, territórios e histórias que fazem da cidade um espaço vivo de criação e resistência.

* Toda programação contará com intérprete de libras.

Informações do evento

Datas e Horários:
13 de setembro de 2025 até 21 de setembro de 2025 14:00 às 17:00 - Sábado 14:00 às 17:00 - Domingo

Entrada Gratuita

Classificações: livre

Acessibilidade: Sem Acessibilidade

Capacidade de pessoas: 00

Site: https://linktr.ee/movimentosmigrantes

Formato do Evento: Presencial

Local: Centro de Artes da Maré (RJ)

Endereço: Rua Darci Vargas, 181 - Rio de Janeiro / RJ - 21044-040

Localização: