Ecos da Separação

A performer, coreógrafa e pesquisadora Inaê Moreira estreia seu solo inédito “Ecos da Separação“ em duas sessões exclusivas no Sesc Bom Retiro, nos dias 18 e 19 de julho, sexta e sábado, às 20h. O trabalho é fruto de uma imersão artística realizada em 2024 no Senegal, onde a artista participou do Curso Profissional em Danças Africanas na renomada École des Sables, referência internacional em formação e criação nas artes da dança do continente africano.

Combinando dança, música e literatura, “Ecos da Separação” constrói uma cena que rompe com as formas tradicionais de narrativa ao investigar e reinventar as memórias afrodiaspóricas. “Arquivo não é só o que se guarda. É o que insiste. É vestígio do que se recusou a apagar. É testemunho e reinvenção. É o que poderia ter acontecido — e talvez ainda aconteça”, afirma Inaê Moreira.

Durante o espetáculo, a artista sonora Marta Supernova realiza performance ao vivo, em constante diálogo com as danças de Inaê. A fusão de linguagens artísticas — corpo, imagem, som e escrita performativa — transformam o palco em um espaço onde as margens entre tempo, território e identidade se dissolvem, permitindo ao público vivenciar a profundidade das histórias de reconexão que compõem a obra. Ao abordar as distâncias geográficas, históricas e temporais vividas por corpos negros, a peça, que questiona fronteiras e limites criados pela colonialidade, apresenta-se como um ritual de cura e reconexão, onde o corpo torna-se território de cuidado e celebração da memória.

A criação de movimento em cena inspira-se nos diversos repertórios encontrados na Ècole de Sables, como a dança senegalesa Sabar, os cantos e movimentos Bouladjel, entoados nos navios negreiros em Guadalupe, os movimentos da Goumbé do Benin, entre outras encruzilhadas atlânticas. Tudo isso faz dessa experiência território de reencontro, reencanto e reinvenção das memórias negras; uma narrativa que transborda fronteiras físicas e espirituais.

Uma das forças desse projeto reside no fato de que ele se constrói coletivamente por uma equipe de profissionais negros, que compartilham de um mesmo compromisso estético e ético, com suas vivências e saberes, enriquecendo o processo criativo e contribuindo para a pluralidade de perspectivas que a obra busca expressar.