Ainda envolvida em preconceitos e discriminações de cunho racista (institucional e religiosa), o conceito de Macumba é muito maior e mais potente do que julgamentos externos e ignorantes podem conceber.

Para compreender a Macumba, uma boa dica é enxergá-la como um complexo de saberes e de políticas afro-indígenas, desenvolvidas no encontro de povos cuja urgência era a mesma: sobreviver frente a um projeto colonial que visava o extermínio de tudo o que não fora branco. Um extermínio não só físico, mas também simbólico: o apagar de culturas e histórias.

Para falar sobre Macumbas e suas intersecções, tanto em nossos fazeres cotidianos como em nossos fazeres artísticos, o laboratório político-performático Núcleo Experimental de Butô realizará a palestra e vivência “Dançarinos Macumbeiros, Macumbeiros Dançarinos: o que os Encantados de Umbanda nos ensinam sobre dança?”.

O evento presencial acontece no dia 28 de maio, das 14h às 17h, na Oficina Cultural Oswald de Andrade. O encontro será conduzido por Thiago Abel, fundador e diretor do Núcleo, dançarino e macumbeiro, nascido e criado em terreiros de umbanda da zona norte de São Paulo. Ele comenta:

“A Macumba não é restrita somente às práticas de culto aos orixás, voduns, inquices, encantados ou ancestrais; e os macumbeiros não são somente os filhos de santo. Capoeiristas, sambistas, jongueiros, funkeiros e carnavalescos – mais uma infinidade de seres que lutam pela manutenção e perpetuação de saberes e fazeres ancestrais encruzilhados no Brasil – também são macumbeiros”.

O evento integra o projeto Encanteria, uma realização do Núcleo Experimental de Butô, fomentado pela Secretaria de Cultura do Município de São Paulo. O projeto contempla encontros online, oficinas de formação, ensaios abertos e uma série de 30 espetáculos de dança. As ações acontecem em diferentes pontos da cidade de São Paulo, até outubro deste ano.

 AS ENCRUZILHADAS ENTRE AS MACUMBAS E O BUTÔ

Butô é uma dança fundada pelo artista japonês Tatsumi Hijikata, ao fim dos anos 1950 no Japão. Seu nome original é Ankoku Butô, que significa Dança das Trevas. Uma das principais intencionalidades deste projeto político artístico é a revolta do corpo que não mais permitirá ser sufocado pelos sistemas de poder, que sustentam um suposto mundo civilizado a partir da despotencialização da vida.

Durante os anos 1960, o Butô foi um dos mais importantes movimentos da contracultura japonesa. De acordo com Thiago, que também é doutorando em Comunicação e Semiótica e mestre em Artes da Cena, isso se deu porque uma das funções sociais do Butô foi o de romper e questionar as fronteiras existentes entre os inseridos e os excluídos da sociedade.

“O Butô colocou em cena o que era tabu à sociedade, em especial aqueles que eram marginalizados, como os corpos de doentes, infratores da lei, pessoas com deficiência, pobres, pessoas trans, homossexuais, camponeses e trabalhadores do sexo”.

Por sua vez, a Umbanda também tem a exclusão social em sua origem. No início do século 20, Zélio de Moraes (1891-1975), nascido na cidade de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, foi levado à Federação Espírita de Niterói, onde incorporou o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Acontece que o Espiritismo havia absorvido influências dos movimentos eugenistas, que ditavam que o homem europeu civilizado era o ápice da evolução humana. Assim, a Federação Espírita proibia a incorporação dos espíritos de negros, indígenas e de quem mais lhes conviesse estigmatizar e marginalizar. Ao ser convidado a se retirar, Zélio de Moraes afirmou que fundaria um culto onde “os espíritos de pretos, índios e povo das ruas assumiriam o protagonismo para cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou”. Thiago finaliza:

“Para além das questões de fé, a palestra apontará como os sistemas de dominação encontram e aprimoram estratégias de eliminação dos saberes desenvolvidos por povos que não estão assentados no centro do poder. A dança é um aparato criativo de resistência e transformação frente a este cenário. É uma micropolítica, um microativismo”.

O NÚCLEO EXPERIMENTAL DE BUTÔ

Fundado em 2014 na cidade de São Paulo, o Núcleo Experimental de Butô é um laboratório político-performático de pesquisa, criação e formação em Butô. Com atuação nos subúrbios da cidade de São Paulo, em meio a desigualdade social crescente e fomento das artes periféricas e corpos dissidentes, o Núcleo Experimental de Butô utiliza mídias digitais e físicas – principalmente as ruas da metrópole – para expandir a ideia de corpo e movimento num jogo de revolução por meio da dança.

Informações do evento

Datas e Horários:
28 de maio de 2022 14:00 às 17:00 - Sábado

Entrada Gratuita

Classificações: livre

Acessibilidade: Com Acessibilidade

Capacidade de pessoas: 20

Site: https://oficinasculturais.org.br/atividade/oficina-dancarinos-macumbeiros-macumbeiros-dancarinos/

E-mail: comunicacao@emergemag.com.br

Formato do Evento: Presencial

Local: Oficina Cultural Oswald de Andrade

Endereço: Rua Três Rios, 263 - São Paulo / SP