Da Laje para a Garagem é um resgate de memórias afetivas, é perceptível a presença das brincadeiras, das lembranças entre o transitar da laje para a garagem, até a iluminação do espetáculo é um brincar no palco, dando a cena um ar de jogos competitivos de rua.
É um espetáculo de criação e investigação que propõe, a partir da pesquisa em dança, discutir questões sobre a representatividade do corpo negro no protagonismo de estéticas corporais, tendo como base as danças tradicionais negras dos rituais jejes e yorùbá que já faz parte das pesquisas que o Grupo Ewé vem trazendo em suas proposições artísticas.
A dança ritual neste trabalho, coloca em cena experiências coletivas que partilham de ações para alcançar um objetivo comum, colocando o artista pesquisador na relação entre o discurso e as condições de produção de sentido, ou seja é tudo aquilo que se faz necessário para o artista pesquisador ter relações de reconhecimento e pertencimento, garantindo que a experiência e estrutura de dança não sejam uma colagem de movimentos deslocados da singularidade do artista pesquisador.
O processo criativo considera-se não somente o artista pesquisador mas tudo o que participa e é estímulo para a construção e pesquisa em dança como parte necessária e fundamental para o processo dramatúrgico e de construção da cena. Quando questionado sobre a ideia espacial do espetáculo o coreógrafo e diretor do grupo Ewé Luiz Anastácio diz: “a ideia espacial evocada é inspiração sensível para compreender como estes espaços físicos, muito vivenciados nas periferias, demarcam parte da identidade preta paulistana e a dança ritual é uma forma de experienciar, a partir do corpo e da produção de conhecimento em dança”.
Luiz comenta ainda: “a performatividade do movimento que coloca o sujeito em um espaço e tempo que o caracteriza como parte desta época, ora por cima (Órun – mundo espiritual) , ora por baixo (Àiyé – mundo terreno) é uma analogia referente à laje e à garagem, espaços que marcam inúmeros acontecimentos para o corpo preto periférico, não se limitando a ser uma plataforma de acontecimentos sociais, mas expandindo-se em uma noção de espaço, convívio e história ou seja, de territorialidade”.
No espetáculo também é possível observar referências adinkras (símbolos ideográficos pertencentes aos povos Acã), como mapas conceituais tridimensionais e a partir das fundações imagéticas e filosóficas do povo Acã, que traz em sua representatividade a imagem do deus do Céu, Kwaku Ananse, o homem aranha, o tecer de caminhos mostra o quanto as ancestralidades negras estão interligadas de forma a compreender que fazer, no pensamento africano, é um ato coletivo.
“Da laje para garagem” é uma celebração dos corpos pretos em ações coletivas, transformando narrativas de um corpo que muitas vezes é estereotipado e esvaziado de suas sabedorias, um espetáculo que traz analogias do que é estar por cima e por baixo em uma sociedade racista como a nossa.
Ficha Técnica:
Diretor Geral, Diretor de Arte e Coreógrafo: Luiz Anastácio
Assistente de Direção: Beatriz Oliveira
Diretor de Mídia e Designer: Ian Muntoreanu
Produção Executiva: Rafaela Araújo
Bailarinos: Aruan Alvarenga, Beatriz Oliveira, Joyce Silva, Luiz Anastácio, Rafaela Araújo e Thico Lopes
Bailarina Aprendiz: Jessica do Carmo
Figurino: Luiz Anastácio
Objetos Cênicos: Grupo Ewé
Iluminação: Bruna Tovian
Musicista: Hambria Costa
Informações do evento
Datas e Horários:
25 de maio de 2023
21:00 às 22:00 -
Quinta-Feira
Entrada Gratuita
Classificações: 12 anos
Acessibilidade: Sem Acessibilidade
Formato do Evento: Presencial
Local: Teatro Cacilda Becker
Endereço: Rua Tito, 295, até 1005/1006 - São Paulo / SP - 05051-000
Localização: