Depois de criar Transe para o Balé da Cidade de São Paulo e Crocodilos Debaixo da Cama para a Companhia de Dança de Diadema, em 2021, o coreógrafo brasileiro, radicado na Alemanha há mais de 15 anos, Clébio Oliveira, apresenta novo trabalho no Brasil, corpo.onda, obra que ganha o palco do Sesc Pompeia, entre os dias 18 e 21 de julho (veja programação completa abaixo), com interpretação de Christine Ceconello e Zula Lemes, duas artistas brasileiras também radicadas no mesmo país.
Em sua essência, corpo.onda busca transcender o imediato, oferecendo uma reflexão sobre a condição humana e as interações entre mente, corpo e o ambiente que nos cerca, especialmente diante de possíveis catástrofes. A obra, concebida no período da pandemia, se tornou uma investigação alegórica que explora não apenas as complexidades da mente humana, mas também nossa resposta emocional e psicológica diante da adversidade. Toda a performance se transforma em um ritual próprio, alienado, visando a catarse e a purificação dos afetos da destruição para um estado de cura.
“Esta contínua investigação da psique humana não apenas desafia meus limites pessoais, mas também me conduz a explorar novas dimensões artísticas, utilizando a mente como fonte inspiradora”, fala o coreógrafo Clébio Oliveira. “Para mim, criar corpo.onda foi muito mais do que produzir uma obra: vivemos em uma era em que testemunhamos eventos que moldam nosso mundo em tempo real, desde tragédias como o tsunami no Japão, em 2011, até os desastres ambientais de Mariana, em 2015, e Brumadinho, em 2019, além da pandemia global, presente durante a criação da obra. corpo.onda surgiu desse contexto e de uma questão central: como reagimos diante de situações inesperadas que estão além de nosso controle?”, fala o coreógrafo.
“Como o corpo humano reage a situações existenciais extremas?”, “Como as pessoas desenvolvem resiliência e mobilizam suas forças instintivas ou se sentem desamparadas?”, “Que metáforas e imagens captam o espírito trágico que não mais reside apenas no indivíduo, mas nas circunstâncias que o cercam?”, questões como estas inspiraram Clébio na concepção. “Minha performance não é apenas uma expressão artística, mas também uma tentativa de articular vozes interiores através do corpo, utilizando livre associação e um processamento da realidade por meio da minha própria experiência. Durante o processo, testemunhei como o ambiente externo pode invadir o nosso interior, provocando reações emocionais intensas, como um curto-circuito ou uma reação química transformadora”, fala.
Na construção do trabalho, o coreógrafo viu os corpos das intérpretes não apenas como instrumentos de movimento, mas como manifestações de sobrevivência e resiliência. Em um nível emocional profundo, a performance evocava uma catarse de sentimentos reprimidos: lágrimas, palavras, gritos, todos emergindo como expressões do sofrimento interno e externo.
As instalações e projeções de Mirella Brandi – que recebeu o prêmio de melhor design de luz por Foreign Body (2019), com interpretação de Clébio Oliveira, pela Associação Paulista de Críticos de Arte – exploram a materialidade do corpo, do espaço e do movimento. Em cena, os corpos se transformam em telas ambulantes temporárias, e também ganham formas com as vozes de seus próprios demônios, misturas à trilha sonora original de Matresanch, em ritmo, pausas e onomatopeias.
A performance multimídia captura as metáforas e imagens que refletem o espírito da contemporaneidade e questionam como lidamos com a incerteza e a perda de controle. O próprio título da obra nos lança para esse mar sensações e inquietações que vão e voltam. “O título é escrito em letras minúsculas propositalmente pois me dá a ideia de que os conceitos de ‘corpo’ e ‘onda’ estão intrinsecamente conectados e fluem como se um corresse para o outro de forma contínua e natural”, completa.
AS INTÉRPRETES
Brasileiras radicadas na Alemanha, Christine Ceconello e Zula Lemes voltam ao Brasil para interpretar a obra. “Eu volto para dançar no meu país depois de 40 anos”, conta Zula. “No grupo de Teatro Vento Forte, do qual participei, meu último trabalho como dançarina foi Histórias de Fuga, Paixão e Fogo, dirigido por Ilo Krugli, em 1983. Depois saí do Brasil e agora retorno, com os cabelos todos brancos, mas em uma situação maravilhosa: dançando na cidade onde nasci, São Paulo, sendo coreografada por Clébio. Aos 69 anos, um mês antes de fazer 70, sinto-me grata por ter sobrevivido e poder fechar esse ciclo”, conta a intérprete.
Para Zula, foi um presente a oportunidade de dançar uma obra de Oliveira. “Seus trabalhos são profundamente políticos, sociais e artisticamente ricos, e a maneira como ele expressa a arte na dança enche meu coração. Participo de um trabalho dirigido por ele em uma fase avançada da minha carreira, o que poderia ser considerado o fim ou quase isso. É uma forma que ele tem de tocar profundamente as pessoas e ao mesmo tempo provocá-las a reconectar com sua humanidade. Isso é corpo.onda para mim. Lembro-me de uma vez, ele disse algo que ressoou profundamente: ‘A solidão está tomando conta do mundo, o vírus, as guerras, só nos fazem perder a consciência de que sozinhos não podemos fazer nada, a não ser ficar abraçados com um cacto’”, relembra.
Para Christine Ceconello, que não dança no país há mais de 18 anos, “dançar corpo.onda é como entrar em uma viagem física e psicológica profunda. O movimento ressoa as sensações de um corpo que cai, sofre, reage, passa por uma espécie de catarse e, a cada espetáculo, descobrimos algo novo e saímos diferentes”, fala. “Voltar a dançar em São Paulo é incrível, ter a possibilidade de mostrar um pedacinho da minha caminhada como artista e o quanto mudei desde a última vez que pisei em um palco da cidade é emocionante, principalmente dançando um trabalho como este, que considero um grande desafio”, revela.
Ficha técnica:
Concepção/Coreografia/Direção: Clébio Oliveira
Intérpretes Criadores: Christine Ceconello e Zula Lemes
Música Original: Matresanch
Design de Iluminação: Mirella Brandi
Assistência de Iluminação em São Paulo: Nicolas Marchi
Assistência de Iluminação em Berlim: Marcelo Schmittner Daza
Operador de Som: Leo Mattos
Dramaturgia: Yasmine Salimi
Figurinos: Atelier Liyanova Migliorati
Comunicação: Marcela Benvegnu e Flávia Fontes Oliveira
Fotos Divulgação: Dieter Hartwig
Produção Executiva em Berlim: Elisa Calosi
Produção Executiva no Brasil: Caroline Zitto
SAIBA MAIS SOBRE OS ARTISTAS
Clébio Oliveira | Concepção, Coreografia e Direção Artística
Clébio Oliveira nasceu em Natal, no nordeste do Brasil. É coreógrafo, bailarino e professor de dança contemporânea, licenciado pelo Centro Universitário da Cidade, no Rio de Janeiro. Seu universo artístico está intrinsecamente ligado à sua perspectiva subjetiva. Suas motivações artísticas não apenas buscam tornar visíveis questões atuais, mas também nos confrontam com nossa própria psique e seus efeitos, evocando os monstros do subconsciente. Seu trabalho está em constante diálogo com a sinestesia e os elementos do teatro. Clébio experimenta a interseção artística desses elementos, onde o corpo é confrontado com seus limites, ao mesmo tempo em que essa experiência expande nossa compreensão existencial. Ele está sempre em busca das paisagens da alma, do afeto e da mente nas pessoas, observando as camadas da vida que compõem os problemas da comunidade contemporânea. Suas narrativas refletem um pensamento mutável, no qual ele tenta reescrever suas ideias e histórias, equilibrando o fluxo mental de ideias híbridas e criando um corpo fluido, livre, poderoso e visceral.
Em 2022, atuou como coreógrafo convidado na primeira residência artística Brückerei, em Zurique, tendo como mentor o coreógrafo Alain Platel (Les Ballets C de La B.). Entre 2017 e 2019, recebeu quatro indicações ao prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) incluindo melhor criação do ano por “Primavera Fria” (pela São Paulo Companhia de Dança), melhor interpretação e melhor estreia pelo solo autoral para “Foreign Body”, além de melhor design de luz, vencendo nesta categoria. Em agosto de 2012, recebeu da revista Tanz Magazine o prêmio Hoffnungsträger como coreógrafo revelação do ano. Em 2012 e 2013, recebeu pelo segundo ano consecutivo o Troféu Cultura-RN como melhor espetáculo pelas coreografias “Rio Cor de Rosa” e “Proibido Elefantes”, respectivamente. Em maio de 2011, foi o vencedor do National Choreographic Competition Chicago – USA. Em 2010, seu trabalho “Dona José” foi eleito um dos 10 melhores espetáculos do Rio de Janeiro pelo Jornal O Globo. Em 2006, recebeu o prêmio de Melhor Coreógrafo de 2006 pelo Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro. Sua trajetória artística contabiliza mais de 20 prêmios em sua carreira.
Como coreógrafo, criou peças para a Hubbard Street Dance Chicago 2 (EUA), São Paulo Companhia de Dança, Balé da Cidade de São Paulo, Diadema Companhia de Dança, MAM – Museu de Arte Moderna, Divinadança (em São Paulo), Corpo de Dança do Amazonas (em Manaus), Ballet da Cidade de Niterói, DeAnima Ballet Contemporâneo e Carlota Portella Companhia de Dança (no Rio de Janeiro). Na Alemanha, criou para o Grips Theater, Staatstheater Stuttgart, Staatstheater Düsseldorf, Ballett Theater Kiel, Theater o.N. e Ballett Theater Lüneburg. Também trabalhou com o GG Táng Eger na Hungria, e fez residência artística em Brückerei, em Zurique, e em Schloss Bröllin, Mecklenburg-Vorpommern. Seu próximo trabalho, “After The Sun”, estreia em 29 de agosto em Berlim, cidade onde Clébio reside desde 2009 e onde tem realizado diversos projetos.
Zula Lemes | Intérprete
Zula Lemes nasceu em São Paulo, Brasil, e estudou dança, atuação e canto tanto no Brasil, quanto na Argentina. Ao longo de sua carreira como cantora, atriz, professora e dançarina, desenvolveu um estilo inconfundível, marcado por seu forte carisma. No final da década de 1980, mudou-se para a Alemanha como bailarina solo em turnê pela Europa, colaborando em diversos programas solo com o músico e diretor teatral Marcelo Royo. Desde 1990 atua como professora de dança e teatro na Alemanha. Em 1990, foi agraciada com o prêmio “Exemplary Intercultural Youth Work”, pelo Senado de Berlim. Em 1993, recebeu uma bolsa de artes performáticas da Fundação de Arte Baden Württemberg. De 2006 a 2010, lecionou como professora de movimento na Academy Stage Art School. Atualmente, ensina dança afro-brasileira moderna no VHS, em Berlim, onde reside.
Christine Ceconello | Intérprete
Christine Ceconello nasceu em Caxias do Sul, Brasil, e iniciou sua carreira como bailarina no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Após quatro anos passou a integrar o Teatro Castro Alves, na Bahia. Em 2007 mudou-se para a Europa, onde dançou no Staatstheater Augsburg, no Grand Théâtre de Genève, no Stadttheater Hagen, no Theatre Heidelberg e na Deutsche Oper Berlin. Recebeu o Prêmio de Promoção de Arte da Baviera, em 2009, e o Prêmio de Teatro Augsburg, em 2008. Christine também desenvolveu suas próprias obras coreográficas e foi indicada ao Prêmio de Dança Cesgranrio 2019/2020 no Brasil como melhor coreógrafa e intérprete.
Informações do evento
Datas e Horários:
18 de julho de 2024
até 21 de julho de 2024
17:30 às 18:30 -
Domingo
20:30 às 21:30 -
Quinta-Feira
20:30 às 21:30 -
Sexta-Feira
20:30 às 21:30 -
Sábado
Valor: R$ 12,00 a R$ 40,00
Classificações: 14 anos
Acessibilidade: Com Acessibilidade
Formato do Evento: Presencial
Local: Sesc Pompeia
Endereço: Rua Clélia, 93, até 1699/1700 - São Paulo / SP - 05042-000
Localização: