canto ao fim (na Sala Olido)

Pensamos na oralidade, nas canções de ninar, nos gestos que não se arquivam pois são atualizados a todo tempo na transmissão corpo a corpo. Gestos que moldaram nossos gestos, movimentos forjados por danças pregressas, formas que orientam danças futuras.

A dança nos faz lembrar daquilo que só podemos assimilar em companhia. Aprendemos a dançar olhando, sentindo ou dançando junto de alguém. Balançando, para frente e para trás, nos perguntamos como perduram os rastros das dança dos que nos antecederam e dos que ainda virão depois de nós. Como em um processo de rememoração ou de aparição, insistimos em tentar lembrar, e também, imaginar. O que a dança e a manutenção da vida têm em comum?

O nome que dá título à peça propõe uma abertura de sentidos: canto como substantivo mas também como verbo. Cantar, tão intrínseco à dançar, é também uma homenagem e celebração aos sons e movimentos que nos trouxeram até aqui. Canto como insistência e aposta nos gestos vindouros que nos sucedem. O som como um agente que poderia nos devolver a imagem daquilo que se transmite no corpo a corpo, daquilo que se repete nos nossos corpos e nas nossas vozes.

‘canto ao fim’ é resultado da parceria inédita entre Clarissa Sacchelli e Isabel Ramos Monteiro que durante a pandemia voltaram seus olhares para os labores envolvidos nos gestos de cuidados recebidos e doados. Seu processo de criação envolveu uma série de oficinas ministradas pelas artistas além da proposição de uma vivência estendida de dança e criação para gestantes e puérperes. Também foram realizadas conversas com mães e cuidadoras, buscando levantar e investigar relações entre som, memória e cuidado. Destas conversas emergiram diferentes paisagens sonoras, interjeições características da oralidade e coros de ninar que acabaram por dar forma à trilha sonora da peça.

Em cena, a dança acontece em meio a uma instalação de som e luz junto da qual uma comunidade de trabalho e cuidado é instaurada. Os ofícios das operações de luz e som são visibilizados como ações em estado de performance. A dança que aqui toma lugar se dá tanto no centro como nos bastidores da cena. Borrando também a divisão entre palco e plateia, convidamos o público a se sentar junto de onde a dança acontece. Perguntamos como podemos criar um ritmo comum enquanto buscamos modos de regular, sintonizar e ressoar coletivamente. Com ‘canto ao fim’, apostamos nos movimentos que se fazem à beira do silêncio ou da canção.

FICHA TÉCNICA

Criação: Isabel Ramos Monteiro e Clarissa Sacchelli

Performance: Isabel Ramos Monteiro em companhia de Clarissa Sacchelli e Laura Salerno 

Coro: Andreia Yonashiro, Camila Sacchelli Ramos, Carina Pepe Sacchelli, Carolina Pepe Sacchelli, Isis Schranck, Júlia Rocha, Leticia Sekito, Marcela Tiboni, Maria Clara Silva Izidoro Salerno, Maria Claret Pepe Sacchelli, Melanie Graille, Mônica Augusto, Rebeca Sacchelli, Thais Sacchelli, Tatiana Sacchelli, Waléria Sacchelli Ramos, Walkiria Sacchelli 

Composição sonora: Clarissa Sacchelli em companhia do coro

Arquitetura de som e mixagem de trilha: Miguel Caldas

Montagem de som: Igor Souza e Tomé de Souza  

Luz: Laura Salerno

Diálogo dramatúrgico: Júlia Rocha 

Diálogo coreográfico: Beatriz Sano

Diálogo de som: Luisa Puterman

Diálogo visual: Renan Marcondes

Produção executiva: Iolanda Sinatra

Design gráfico: Bruna Keese

Fotografia: Mayra Azzi

Assessoria de imprensa: Nossa Senhora da Pauta

Apoio: Casa Líquida, Casa 88, ELD Santo André, Galeria Olido, Greta Galpão, Instituto de Artes da Unesp, IA Unicamp, Unidança, Teatro Conchita de Moraes

Agradecimentos: 

Bruno Cucio; Bruno Levorin; Eduardo Fukushima; Joana e seus avós e tios; Lilian Vilela; Instituto de Artes da Unesp; Talma Salem; aos participantes de ‘NINHADA – dança e criação para gestantes e puérperes’: Ayeska Ariza e bebê na barriga, Carolina Pereira e Benjamin, Fernanda Lobo e Martim, Íris Junges e bebê na barriga, Júlia Rocha e Lírio, Patrícia Bergantin e Inácio, Rosana Carvalho, Thaís Capeto e Primavera; aos passantes, participantes e artistas convidados da residência ‘canto de começos’ no Sesc Pompeia: Andreia Yonashiro, Bárbara Malavoglia, Beatriz Sano, Carolina Canteli, Cris Almeida, Graziela Kunsch, João Borges, Júlia Rocha, Kali Apu, Marcela Reichelt, Marion Hesser, Miriam Carvalho, Mônica Augusto, Tamisa Betina, Thati Valério; às Mães Mobilizadoras do Centro de Excelência à Primeira Infância/IBEAC e participantes das Rodas de Dança, Movimento e Cuidado para gestantes e mães de crianças pequenas.

Projeto contemplado pelo PROAC 03/2023 – Dança – produção de espetáculo inédito