Breves estadias
Série de ações interligadas e interdependentes com objetivo de gerar impacto e envolvimento, por meio de uma estadia curta, mas intensa em sua proposta, que nutra não apenas a artista e a trajetória de sua obra, via apresentação do espetáculo, mas que provoque o interesse, o olhar de cumplicidade e alteridade que podem emergir a partir do encontro artístico e, portanto, político, social e cultural, para produzir novos discursos e afetos. São elas:
23/05 – Workshop de Produção Cultural – das 19 às 21hs
Ministrado por Zé Renato
O workshop irá trabalhar um percurso histórico das formas de produção cultural no país e apresentar os elementos de trabalho do produtor, em parceria com os artistas que ele trabalha: desde a organização de um projeto para um edital até a finalização total do projeto, com relatório final e prestação de contas. O workshop objetiva mostrar aos interessados como se realiza uma ação dessas, como se estrutura aquilo que a gente encontra em cena, do ponto de vista da produção.
24/05 – Workshop VERMELHA – das 19h às 21hs
Ministrado por Liana Zakia
É um encontro prático fundamentado no processo de criação da obra coreográfica VERMELHA, no qual serão compartilhadas imagens inspiradoras e procedimentos criativos que dialogam com as corporalidades presentes na obra – sustentação do peso do corpo contra a ação da gravidade, resistência ao peso, inversão do eixo físico no espaço, aceleração de ações, criação e rompimento com estados de estabilização, narrativas biográficas e ficcionais geradas pelas expectativas do corpo que dança. É um convite para a ampliação de diálogos sobre os múltiplos feminismos e as diversas experiências artísticas e de vida, que tangem esse grande assunto.
Demais atividades que dispensam inscrição prévia
25/05 – O Encontro: Papos de Dança “Quão românticos”? – 16h às 18h
25/05 – VERMELHA (espetáculo sessão 1) – 19h
26/05 – VERMELHA (espetáculo sessão 2) – 17h
26/04 – Conversa Avermelhada – 18h às 19h
Este projeto está sendo realizado com recusros da 34a Edição do Programa Municipal de Fomento à Dança para a Cidade de São Paulo
Ficha técnica VERMELHA
Concepção, Criação e Atuação: Liana Zakia
Desenho de luz: Ligia Chaim
Operação de luz: Roseli Marttinely
Trilha Sonora, identidade visual e Material Gráfico: Danilo Pêra
Figurino: Emilia Reily
Produção: Cais Produção Cultural
Direção de Produção: José Renato Fonseca de Almeida
Assistente de Produção: Cristina Ávila
Sobre VERMELHA
O espetáculo VERMELHA se constituiu a partir de uma série de perguntas a esse corpo “formado” e formatado pela dança, em suas camadas visíveis, mas principalmente invisíveis. Aquilo que se assume conscientemente e aquilo que se incorpora sem nem perceber, valores que se tornam corpo, comportamento, pensamento, urgência, medo, insegurança, prática, hábito.
O processo de pesquisa partiu, primeiramente, da apreciação e encantamento acerca da obra Desvio para o vermelho, do artista brasileiro Cildo Meireles (concebida em 1967, montado em diversas versões desde 1984 e exibido em Inhotim – MG em caráter permanente desde 2006). O ambiente composto por múltiplas variações de tonalidades vermelhas causou uma sensação de aparente estabilidade e logo em seguida, de um turbilhão de estados e afetos, que se relacionam com o corpo-ambiente-feminino no qual se debruça a obra VERMELHA.
Foi potente investigar o que o ambiente monocromático gerou em termos de distintas sensações, em relação a corpo, intensidade, contradição e desestabilização.
Inspirada por Desvio para vermelho, uma coleção de imagens de contextos femininos distintos e um texto produzido por Renato Jaques, o processo de criação foi desenvolvido, sob aspectos do feminino, do corpo-comportamento da mulher. A constatação de que a figura feminina tendia a ser mais valorizada quando detentora de “ferramentas” que sugerissem a bondade e a obediência, banhadas e confundidas por um jeito/estado “doce” e delicado de ser/estar no mundo e em suas relações. Isto nem sempre como construção explícita, mas presente nas entrelinhas e expectativas sociais.
Ainda que pareçamos ter evoluído neste sentido, ainda existe uma construção equivocada de um corpo doutrinado em que a mulher é frequentemente “minimalizada” ou retratada apenas via certos aspectos que fortalecem ainda mais os estereótipos datados.
O corpo feminino, porém, assim como qualquer outro, é corpo. Antes mesmo de uma feminilidade social e culturalmente construída, os estados de corpo têm tantas variações que não seria possível pensá-los pelas vias da estabilidade. O contexto familiar patriarcal, as relações machistas, os silenciamentos não declarados, a cobrança social de uma “mulher-maravilha”, dotada de eixo, força, tolerância, que inclusive sustente e suporte situações insuportáveis, criam o ambiente do qual partiu-se para pensar então, onde estão, moram ou ganham corpo os rompantes desestabilizadores das figuras-mulheres e que forma e conteúdo trazem à tona para a pesquisa e elaboração em dança.
Sobre os impulsos e desejos da artista na realização do atual projeto
O Projeto Vermelhas em Campo Expandido: uma pesquisa-ação acerca de Feminismos tem como objetivo dar continuidade e contornos aprofundados à pesquisa e prática artística de Liana Zakia, com parcerias diversas, compreendendo como questão central para seu discurso poético, político e estético, as múltiplas percepções e experiências de feminismos, distinguidas porém não separadas, em um contexto que envolverá duas etapas de pesquisa-ação, nomeadas aqui de Primeiro e Segundo Tempo.
Uma analogia simbólica se constrói na apropriação da palavra Campo como parte do título do projeto, abrindo duas indicações imagéticas. O campo como território da cidade de São Paulo. O campo associado ao lugar onde se habitam torcidas organizadas, ou campo de futebol.
O Primeiro Tempo tem como objetivo é estabelecer uma relação da cidade como campo expandido de ações artísticas, possibilitando breves mergulhos artísticos em cinco regiões da cidade de São Paulo – Norte, Sul, Leste, Oeste e Centro – através de uma proposta de uma rede de ações chamadas aqui de “Breve-Estadias”.
No Segundo Tempo pretende-se realizar um experimento coreográfico, ou manifesto coreográfico com 10 artistas da dança, mulheres ou pessoas que se autodeclaram do gênero feminino, entre 25 e 65 anos, convidadas ou convocadas por inscrição pública, interessadas na participação e desenvolvimento de uma pesquisa artística que parte da imagem de uma torcida organizada, para construir um experimento coreográfico ou um manifesto coreográfico, de vozes, gestos e movimentos que acolham as existências femininas plurais como campos de resistência. Tal experimento contará com uma parceria de produção de material audiovisual – trilha e projeção (Danilo Pêra).
O desejo de realizar este projeto se fundamenta na inquietação de uma artista que se vê em um momento bem específico de sua trajetória. Com um caminho que se funde entre a prática e pesquisa artística e pedagógica, Liana Zakia vem construindo na cidade de São Paulo, um trajeto de 12 anos de experiências coletivas como integrante e fundadora do Núcleo MIRADA (desde 2010); como artista e professora/educadora/orientadora em projetos como Vocacional (Artista Orientadora do Coletivo Provisório/ CEU Casa Blanca 2013), Núcleo Luz – Ciclo I (desde 2012) e Escola de Dança de São Paulo (desde janeiro de 2020); e como artista solo em pesquisa desde 2017, a partir de uma residência artística no CRD (Centro de Referência da Dança de São Paulo), tendo criado, sem recursos públicos, o Espetáculo VERMELHA, estreado em tempos pré-pandêmicos, em novembro de 2019, no Sesc Pompéia/SP e circulado apenas no Sesc da cidade de Campinas/SP, exatamente um dia antes de todas as atividades abertas ao público de encerrarem, em 12 de março de 2020.
Justificada por um impulso e necessidade de continuidade de uma pesquisa pautada no encontro presencial, um tanto abafada pela pandemia, propõe-se agora esse caminho por uma temática que continua vista como urgente e necessária. Ser mulher, ser feminina, feminista, ser em coletividade. O panorama de agendas temáticas urgentes talvez não esteja considerando tal assunto dos mais necessários, porém, escolhe-se por mover nos caminhos de uma coerência de trajetória, honesta e necessária, já que a propositora considera-se uma artista da dança pertencente à diversos contextos artísticos e formativos da cidade, que diariamente exprimem a importância de discutir-se e construir-se dança pelo viés da escuta, da sensibilidade, do afeto, do respeito às individualidades, do antirracismo, e em sua grande maioria, no corpo da menina, da jovem e da mulher.
Na perspectiva de um aprofundamento de um percurso já existente, porém interrompido prematuramente, justifica-se o Primeiro Tempo do projeto. Parte-se da constatação de que é preciso pensar, rever e reinventar os modos de difundir ou circular os trabalhos de dança contemporânea, especialmente após tanto tempo de impedimento dos encontros presenciais, por motivos de forças maiores. Os últimos dois anos foram marcados por um movimento virtual intensificado nas artes, o que não contempla os desejos vinculados ao projeto exposto aqui, que prevê o encontro como ambiente de comunicação corpo a corpo, numa ideia de nos “abalarmos” sensivelmente, diante das provocações e propostas aqui apresentadas.
Desde de antes dos tempos pandêmicos, a artista responsável pelo projeto, Liana Zakia, já identificava uma necessidade de recriar/repensar estratégias criativas que ampliassem as experiências das chamadas “circulações” de espetáculo, pois em vista de suas experiências anteriores, por vezes, a quantidade das ações ganha em detrimento das qualidades dos encontros. Isso, no que se refere a aprofundar as experiências estéticas, que se dão, nesta proposta, pelo encontro com as pessoas, lugares, espaços, assuntos e afetos.
Neste sentido, sabe-se que a disseminação de uma dança, chamada de contemporânea, ainda abriga fluxos incertos, dúvidas e questões, até mesmo sobre o que se trataria tal denominação, e o que pode alcançar e realizar em termos artísticos. Sem a pretensão de explicar, criar moldes ou limites, o caminho necessário e coerente ao que se deseja na relação com o espectador, seria então promover uma ampliação da experiência do encontro. Algo que de certo modo, aproxime artistas, interessados e curiosos e promova espaços exigentes, mas não rígidos de elaboração e fruição da arte da dança.
Assim, as “Breves-estadias” foram pensadas como ações interligadas e interdependentes, que somem, produzam reverberação e impacto real nos locais por onde passar. Um envolvimento gerado por uma estadia curta, mas intensa em sua proposta, que nutra não apenas a artista e a trajetória de sua obra via apresentação de um espetáculo, mas que provoque o interesse, o olhar de cumplicidade e alteridade que podem emergir a partir do encontro artístico e, portanto, político, social e cultural.
Assim, por ações facilitadoras desses bens culturais, que aqui nomeia- se Encontro: Papos de Dança “Quão românticos”?, Workshop VERMELHA, Workshop equipe técnica, Conversa Avermelhada e “respostas coreográficas”, constrói-se a possibilidade de criar interesse e portanto público, tanto para a obra artísticas VERMELHA, em proposta de difusão, como para as atividades formativas, que resistem e se fortalecem nesse cumprimento de construção social, individual e coletiva.
Currículo
LIANA ZAKIA é Mestra em Artes da Cena, na Pós-Graduação do Instituto de Artes da Unicamp (2017), onde desenvolveu sua pesquisa como aluna bolsista (CAPES) e graduada em Dança em Bacharelado e Licenciatura pelo Departamento de Artes Corporais da Unicamp (2003). Participou de diversas mostras e festivais de dança nacionais como intérprete das companhias Galpão 1 (Indaiatuba-SP), Cia de Dança Lina Penteado, Grupo em Pó, Arranhacéus Cia de Dança, Arteiros da Dança, Uoco Grupo de Dança (Campinas-SP). Foi intérprete criadora selecionada para atuar no Ateliê de Coreógrafos Ano V (Salvador, BA), no espetáculo “Paredes Cegas” (2006).
Em São Paulo, onde reside desde 2009, atuou na Caleidos Cia de Dança, no espetáculo “Coreológicas V” (2007) e Núcleo Mercearia de Idéias, nos trabalhos “As Filhas de Bernarda” (2009), “Microbiagrafias Visíveis” (2011), e “Nossos Sapatos” (2012). Foi cocriadora do projeto “Particularidades Móveis” Novos Coreógrafos – Novas Criações Site Specific (2010) do CCSP e artista convidada para a construção e estudo da obra “Silêncios Humanos” no Programa de Residências “Ongoing ArtWork Projects: Obras em Construção” no Espaço Cultural Casa das Caldeiras (2012). Bailarina convidada do Projeto Residência- IPL (International Performance Lab) dirigido por Khosro Adibi no SESC Palladium, Belo Horizonte, MG (2013). Foi arte educadora da área de dança do Programa Fábricas de Cultura, gerido pela Catavento Cultural em parceria com a Secretaria de Estado da Cultura – SP, de 2010 a 2014. Foi artista orientadora do Programa Vocacional, da Secretaria Municipal de Cultura da Cidade de São Paulo, de 2010 a 2012, onde se formou o Coletivo Provisório, que realizou o Projeto Facebunda, contemplado pelo Programa VAI/2013, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Atualmente é docente colaboradora de dança contemporânea do Núcleo Luz, Ciclo 1 (POIESIS /SP) e EDASP – Escola Dança de São Paulo. É co-fundadora e integrante do Núcleo MIRADA desde 2010, com o qual realizou diversos projetos tais como: Projeto Rede CALA, contemplado pela 18o Edição da Lei de Fomento à Dança do Município de São Paulo, Resquícios Brutos contemplado pelo ProAc/16 de criação em dança e Entre um corpo e outro o vento passa, contemplado pela 25o Edição da Lei de Fomento à Dança do Município de São Paulo. Desde 2016 realiza sua pesquisa solo no Centro de Referência da Dança em São Paulo, onde desenvolveu o espetáculo VERMELHA, que teve sua estreia no Sesc Pompeia em novembro de 2019, e uma apresentação associado a Workshop sobre processo de criação e um Bate Papo Quão romântico?, em única edição em março de 2020. Desde 2020 é professora de dança contemporânea da Escola de Dança de São Paulo. Ao longo da pandemia realizou projetos online, resultantes em um trabalho em vídeo chamado Lusco-Fusco e uma construção de site comemorativo de 10 anos de Núcleo MIRADA, com apoio da Lei Aldir Blanc e Proac Lab. É artista proponente do Projeto Vermelhas em Campo Expandido: uma pesquisa ação acerca de feminismos, contemplada pela 34O Edição da Lei de Fomento à Dança da Cidade de São Paulo, em realização.
Informações do evento
Datas e Horários:
23 de maio de 2024
até 26 de maio de 2024
Entrada Gratuita
Classificações: livre
Acessibilidade: Sem Acessibilidade
Site: https://linktr.ee/vermelha
Formato do Evento: Presencial
Local: Espaço Cultural Refinaria Teatral
Endereço: Rua João de Laet, 1507 - São Paulo / SP - 02410-010
Localização: