GRUPO MEIO CRIA EM ‘BABILÔNIA’ UMA CIDADE ENCARNADA NOS CORPOS DOS PERFORMERS, MAS TAMBÉM NAS LUZES, MATERIALIDADES E SONS QUE SE SOBREPÕEM NESTA OBRA ARTÍSTICA.

Uma performance de dança enquanto campo ampliado, que aposta em movimentos instáveis, curvos e espiralares, para revelar como viver numa metrópole pode ser uma experiência diária de permitir perder-se e encontrar-se por caminhos labirínticos. Uma assimilação das subjetividades de cada performer acerca das ruas de São Paulo, que é traduzida e transposta para dentro do espaço cênico.

Entre os meses de Julho e Agosto, o Grupo MEIO apresenta “BABILÔNIA” no Galpão do Folias e na sala Paissandú, retomando a realização deste trabalho que estreou em 2022, ganhou o X Prêmio Denilto Gomes de Dança 2022 – categoria pesquisa de corpo, e agora segue aprofundando a sua investigação, com apoio da 33ª edição do Fomento à Dança. O trabalho foi criado com direção coletiva de Carolina Canteli, Iolanda Sinatra e Everton Ferreira, sendo os dois últimos também performers junto a Paulo Carpino e Maria Basulto. Depois de alguns anos estudando e desenvolvendo a pesquisa de corpos-paisagens no contato direto com a rua, por meio de intervenções urbanas, reuniões em espaços públicos e estudos de observação e fotografia de rua, o grupo abraça a possibilidade de ainda assim pensar essa paisagem urbana que tanto pulsa em cada habitante e esquina de São Paulo, mas agora fazendo algumas perguntas fundamentais ao transpor e traduzir a rua para dentro da sala de apresentações, que são:

Afinal, não estaria a rua já incorporada na matéria física, na memória e na forma de mover-se e viver de cada sujeito? Como dar a ver isso? Como criar um trabalho cuja rua ou ideia de cidade paulista, não está no olhar e percepção direta para/com o público, como é o caso da intervenção urbana, mas sim possibilitar perceber a rua encarnada na pesquisa desse corpo-paisagem?

Sendo o assunto “modos de viver na cidade” sempre interessante ao grupo, especialmente no que cabe à arte quando no encontro com o público não especialista e o espaço público, sendo esse encontro um ato artístico, mas também político, MEIO procura aguçar a curiosidade, aprender com o estar num lugar, sem pressupor que a arte deva interromper algo, ou alguém, mas como a direção artística do coletivo gosta de dizer: “quando fazemos intervenções urbanas, as fazemos e pensamos porque queremos que essas sejam mais que intervenções, sejam “convivências urbanas”, abrindo a possibilidade de viver a arte e a rua de forma menos rígida, menos provida de regras da coreografia da obrigação financeira, da coreopolítica e coreopolícia, como diz o pesquisador André Lepecki”.

Para MEIO fazer arte é sim afirmar a disputa estética e ética com outras instituições e entidades notoriamente contrárias a uma cultura e vida democrática e diversa, não acreditando que o artista é de mais valia ou exerce poder sobre ninguém – aliás, o grupo também reforça a luta por serem vistos como trabalhadores e trabalhadoras, porém estes têm o conhecimento de que é somente pela inserção da arte no cotidiano, tecendo gestos sensíveis ao tecido urbano, percebendo que é mais importante a coreografia estar dentro do contexto, porém cultivando a desobediência à norma, para que o sujeito no seu núcleo individual e coletivo tenha um senso de pertencimento, possa imaginar existências e viver para além da sobrevivência.

Fazer um “ato parado” ou muito pequeno numa grande cidade em meio ao fluxo de pedestres, como é o caso da intervenção urbana ‘180’´(2018), a qual o grupo MEIO se posiciona em locais de grande circulação de pessoas e mercadorias, como seres que desafiam o impulso de transitar e criam um corpo-paisagem entre humano, planta artificial, escultura-viva ou qualquer outra imagem acerca desse corpo que ao esconder sua rostidade, borra-se também no espaço público, faz-se corpo-coisa, corpo-árvore, corpo-poste, corpo-prédio. Ou mesmo favorecer o dissenso com uma ação artística, permitindo que a rua não seja simbolizada apenas nos seus fluxos maquínicos, mas sim revelar o campo sutil da rua, suas curvas subterrâneas, as percepções labirínticas e sensíveis do viver numa cidade que se assemelham e penetram nas entranhas, vísceras e, por consequente, nas vidas de cada pessoa, como é no caso da criação em “BABILÔNIA”. Portanto, foi através de muito tempo pesquisando a arte na rua, para a rua e sobre a rua, que MEIO nutriu os hábitos sensoriais, gestuais e imaginários através de outras forças, assumidamente distintas da força do automatismo em que na maioria das vezes, a vida urbana produz. E foi assim, que no processo de criação, com apoio do edital PROAC 04/2021 – Produção e temporada de Espetáculos Inéditos de Dança e agora com o projeto Corpos-paisagens e o tempo Espiralar, apoiado pela 33ª do Fomento à Dança para a Cidade de São Paulo, o grupo se acercou da ideia de criar uma babilônia, um labirinto a ser percebido muito mais pelos rolamentos, espirais e caminhos que as performers fazem durante o trabalho, revelando que materializar essa cidade, já não se separam mais as arquiteturas urbanas das humanas.

Preteriu-se fazer a partir de construções coreográficas, cujo movimento de queda, tontura e até mesmo enjoo, possam dar a perceber uma sensação de cidade em sua travessia, em um estado de vertigem, em que os cruzamentos das ruas e avenidas, também se mesclam com as encruzilhadas e cruzamentos de decisões, violências ou até pequenos gestos de afetividade que fazem parte da vida numa cidade superpovoada, repleta de encontros de mundos distintos, totalmente contraditória e efervescente. E que desde sua pesquisa em 180, entre o vertical e horizontal, entre a noção de existências cujo orgânico e inorgânico se fundem, o grupo têm um desejo transversalizado de mover o bípede de seu lugar, colocando a figura do humano cada vez mais associado ao seu meio, e cada vez menos hierárquico em sua postura de dominação perante ao mundo.

Grupo MEIO MEIO é um grupo dirigido e performado por Carolina Canteli, Everton Ferreira e Iolanda Sinatra, e conta com a participação dos artistas Maria Basulto, Lucas Reitano, Felipe Teixeira e Paulo Carpino. Têm como foco atual pensar a dança enquanto campo ampliado, explorando sua intersecção com várias linguagens artísticas e técnicas, com o intuito de entender as diferentes camadas do entendimento de corpo e paisagem (corpo-paisagem). É essencial para o grupo o exercício de habitar a urbe, as ruas, os palcos e espaços cênicos com o mesmo comprometimento ético e estético, desejando revelar em atos coreográficos, possíveis modos de existir na cidade, com o intuito de reformular a compreensão da subjetividade imposta pelo senso de “normalidade”, criando outras ficções ou mesmo questionando as várias coreografias do dia a dia. Em Maio de 2018 estrearam a intervenção urbana de dança ‘180’ pela programação “Cartografia do Possível” do Centro de Referência da Dança da Cidade de São Paulo. Ainda em 2018 foram selecionados no Circuito Vozes do Corpo 2018 e no Festival do Instituto de Artes 2018 com a mesma intervenção. Em Novembro de 2019 realizaram a residência “Corpos-paisagens: corpos que atravessam os fluxos da cidade” no Sesc Pinheiros, convidando os artistas da residência a performarem o trabalho 180 no Largo da Batata – Pinheiros. No final de 2020 foram contemplados pelo 28º Fomento à Dança com o projeto “Corpos-paisagens: corpos que atravessam os fluxos da cidade”, projeto que foi executado de modo virtual através de ações de formação, investigação e criação artística. Nele, estrearam ‘Matérias ‘Movediças – ação acoplamento’, série episódica de 4 vídeos para 4 marcos históricos da cidade de São Paulo, a co-criação com artistas da residência que leva o nome do projeto, de 20 releituras de ‘180’, para o formato audiovisual e ‘Matérias Movediças’, um trabalho de dança audiovisual. Em 2022 estrearam BABILÔNIA pelo edital PROAC 04/2021 – Produção e temporada de Espetáculos Inéditos de Dança em uma temporada de 6 apresentações, à qual foram premiados pelo X Prêmio Denilto Gomes de Dança 2022 – categoria pesquisa de corpo. Em 2023 seguem com o projeto Corpos-paisagens e o tempo Espiralar, apoiado pela 33ª do Fomento à Dança para a Cidade de São Paulo, com temporadas de BABILÔNIA e 180 

Ficha técnica:

Direção artística e criação: Carolina Canteli, Everton Ferreira e Iolanda Sinatra Artistas convidados e participação na criação: Nina Giovelli e Paulo Carpino Artista integrante do grupo MEIO e criadora: Maria Basulto Performance: Everton Ferreira, Iolanda Sinatra, Maria Basulto e Paulo Carpino Preparação Corporal: Mariana Molinos e Gui Nobre Provocação Cênica: Deise de Brito Iluminação e Automação: Marcus Garcia Trilha sonora: Natália Francischini Designer Gráfico: Felipe Teixeira Foto e vídeo: Lucas Reitano Gestão do projeto: Júnior Cecon Produção Executiva: Júnior Cecon, Iolanda Sinatra e Mariana Dias

Informações do evento

Datas e Horários:
3 de agosto de 2023 até 6 de agosto de 2023 18:00 às 18:40 - Domingo 19:00 às 19:40 - Quinta-Feira 19:00 às 19:40 - Sexta-Feira 19:00 às 19:40 - Sábado

Entrada Gratuita

Classificações: livre

Acessibilidade: Sem Acessibilidade

E-mail: producaodomeio@gmail.com

Formato do Evento: Presencial

Local: Centro Cultural Olido

Endereço: Avenida São João, 473, até 649 - lado ímpar - São Paulo / SP - 01035-000

Localização: