A proposta de um jogo autorreflexivo, onde o corpo busca uma percepção e leitura de si, a recuperação e construção de uma identidade móvel e movente, em que a artista combina reconhecimento e estranhamento, lançando possibilidades de presença num modo pessoal chamado dança, é a fundamentação, o ponto departida e o arcabouço do projeto “Auto-Retrato” (grafado assim mesmo, com hífen, usando de licença poética, para não cair na fácil dedução de uma autodescrição), espetáculo de dança solo da intérprete-criadora Erika Rosendo (Natal/RN), contemplado no Prêmio Funarte de Circulação e Difusão na área da dança, edição 2022, para execução em 2023. Ao todo, 10 cidades em três estados brasileiros recebem o espetáculo a partir de abril deste ano. A circulação de “Auto-Retrato” começa em Minas Gerais, no Centro de Cultura CASESC, em Paraopeba, no dia 12 de abril, às 19 horas. No dia 13, é a vez Sete Lagoas receber o espetáculo, no Teatro Redenção, às 10h30. E a parte mineira da circulação encerra no dia 15 de abril, no Teatro do Corpo/Corpo Escola de Dança, às 20 horas, em Belo Horizonte. Em maio, o projeto chega a Santa Catarina, nas cidades de Blumenau (09/05), Florianópolis (13/05), Joinville (19/05) e Garuva (28/05). A circulação do espetáculo, que tem a concepção e a direção de Jussara Xavier (Florianópolis/SC), encerra em junho, no estado do Rio Grande do Norte, com apresentações em Serra de Martins (14/06), Guamaré (16/06) e Natal (18/06). Todas as apresentações tem entrada gratuita e classificação Livre para todos os públicos. OFICINAS – Além dos espetáculos, o projeto também propõe três edições da oficina “Eu-corpo em estados de dança”, ministrada por Erika Rosendo e Jussara Xavier, com 20 vagas disponíveis em cada local. A primeira oficina será ministrada no dia 14 de abril, das 10 às 12 horas, na SERPAF (Serviço de Promoção ao Menor e a Família), em Sete Lagoas (MG), com público alvo composto por crianças de 6 a 10 anos, com ou sem experiência em dança. A segunda, no dia 28 de maio, das 16 às 18 horas, no Espaço de Vivências Monte Crista, em Garuva (SC), tendo como público-alvo, idosos (acima de 60 anos), com ou sem experiência em dança. E a terceira oficia no dia 19 de junho, das 10 às 12 horas, na Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão (EDTAM), em Natal (RN), com público-alvo de pessoas com deficiência, com ou sem experiência em dança. A oficina propõe o desenvolvimento de um processo de experimentação em dança, com foco no corpo em seus processos de percepção e transformação. Parte da premissa de que cada corpo é autor de sua dança, e que cada dança conserva e destrói atitudes, comportamentos, pensamentos e sensações individuais. O trabalho técnico e criativo compõe-se a partir de/com dispositivos de descoberta e exploração do corpo em relação consigo, com o outro e com o ambiente. Um corpo que se revela e se compõ em dança. As oficinas, assim como os espetáculos, são gratuitas.
CIRCULAÇÃO – A escolha dos três estados para realização deste projeto tem, inicialmente, um sentido afetivo, já que “as pegadas” da intérprete-criadora Erika Rosendo estão bem marcadas e fundamentadas nesses três estados brasileiros. Erika Rosendo nasceu no Rio Grande do Norte, formando-se como bailarina clássica pela Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão e em coreografia pelo Projeto Arte Ação, ambos na cidade de Natal. Em 2007 mudou-se para Santa Catarina, formando-se no curso técnico-profissionalizante da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil (Joinville), espaço em que mais tarde atuou como professora e coreógrafa. Ainda em Joinville, integrou o elenco da AMA Cia. de Dança e iniciou carreira solo como intérprete-criadora, dançando, inicialmente, coreografias de curta duração em festivais competitivos (o que lhe rendeu diversos primeiros lugares e o prêmio de melhor bailarina no 25º Festival de Dança de Joinville) e, posteriormente, seus próprios espetáculos como convidada no circuito da dança profissional.
Já em 2014, mudou-se para Minas Gerais, fixando residência em Belo Horizonte para dançar na companhia Primeiro Ato. Também foi professora do Corpo Escola de Dança e atuou como assistente de direção na SESC Cia. de Dança e na Cia. Jovem de Paraopeba. Retornou para SC no início de 2021. Assim, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e Minas Gerais constituem ambientes fundamentais que compõem o retrato da artista.
“’Auto-retrato’ tem uma grande relevância na minha vida e carreira artística. Foi minha primeira obra criada, pensada com uma estrutura de espetáculo de dança contemporânea”, conta Erika, destacando que quem provocou tudo isso foi Jussara Xavier, diretora do trabalho, que, na época, a encheu de perguntas para as quais ela foi atrás das respostas. “Quando ‘Auto-retrato’ foi criado, eu ainda era uma menina, com muitos desejos de mundo, com um corpo mais jovem, recém chegada ao Sul, me adaptando à temperatura do lugar, procurando o sentido da vida, as percepções de mim mesma”, lembra a intérprete-criadora. E foi nesse processo investigativo e solitário e tendo o corpo como um veículo de expressão que surgiu essa obra “dançada, singela, colorida, honesta expressando o meu autorretrato, com a bagagem de uma vida de apenas 22 anos”, diz Erika.
Foi com esse espetáculo que a intérprete-criadora Erika Rosendo foi apresentada e inserida no circuito profissional da dança, participando de festivais nacionais e internacionais, atuando junto a renomados profissionais da dança que a inspiravam e pelos quais tinha admiração, compartilhando arte, ministrando oficinas de criação em dança para as comunidades.
“Hoje, aos 36 anos de idade, ter recebido o Prêmio FUNARTE de Circulação e difusão da dança, com ‘Auto-retrato’, uma obra criada há 14 anos, modificada pelas ações do tempo, atualizada e sendo o resultado de todos os acontecimentos da minha vida durante essa jornada, é uma forma de refletir sobre a capacidade de se refazer, de buscar espaços para ser artista em meio às demandas do cotidiano, insistir na investigação aos modos de fazer e pensar a dança e sobretudo, ser resiliente aos tempos de agora e tornar realidade o desejo de continuar viva em cena”, destaca a intérprete-criadora do espetáculo.
E ter seu projeto de circulação contemplado pelo Prêmio Funarte também acontece em um momento particular, mas muito significativo na vida da artista, que completa duas décadas de atuação na dança. “É muito especial pra mim, também poder aproveitar o momento da Circulação do espetáculo “Auto-retrato” para comemorar e celebrar meus 20 anos de fazer artístico, atuando no cenário da dança, apresentando-me pelos estados de Minas, onde nutro as minhas relações afetivas e profissionais; Santa Catarina, onde atuo e vivo o meu cotidiano; e Rio Grande do Norte, onde nasci e construí o meu conjunto de valores, lugares que me fazem ser quem eu sou”, destaca.
“Neste ‘Auto-retrato’ 2023, passado, presente e futuro se atravessam, comemoro e compartilho vida e sigo acreditando na arte como o caminho da transformação humana”, comemora Erika Rosendo.
SOBRE O ESPETÁCULO “AUTO-RETRATO”
“Auto-retrato” é um solo de dança originalmente criado no ano de 2008, que segue sendo apresentado até hoje, como estratégia de continuidade e produção contínua de autorretratos da artista Erika Rosendo. O trabalho pensa a ideia de corpo como arquivo, entendido como um sistema ativo em que passado, presente e futuro se atravessam. Busca olhar às experiências incorporadas, à passagem do tempo, ao envelhecimento do corpo na dança e, ao mesmo tempo, para o desejo de continuar viva em cena. Um corpo que ressignifica coisas já existentes (ao invés de criar coisas “novas”), operando na relação entre o real e o possível no aqui e agora. Um autorretrato do corpo que dança implica na composição de um corpo-imagem que, simultaneamente, conserva e atualiza registros corporais próprios, ou seja, traduz a si mesmo como território marcado por constante transformação, reconfiguração de suas conexões e sentidos. O espetáculo propõe um jogo autorreflexivo: o corpo busca uma percepção e leitura de si, a recuperação e construção de uma identidade móvel e movente. A artista combina reconhecimento e estranhamento, lançando possibilidades de presença num modo pessoal chamado dança.
Em sua estreia, o espetáculo “Auto-retrato” (2008) teve apresentações em turnês independentes e como convidado em eventos como Múltipla Dança (Florianópolis); Mostra Contemporânea de Dança do Festival de Dança de Joinville; Mostra Primeiros Passos do SESC Pompéia (São Paulo); Aldeia Palco Giratório do SESC/Joinville; Projeto Repertórios SESC/SC; Encontro Nacional de Dança Contemporânea (Natal); Tanzwoch Dresden (Alemanha). O trabalho nasceu de uma parceria entre a diretora Jussara Xavier e a intérprete-criadora Erika Rosendo que, juntas, também produziram outras obras – MUDA (2022), Com-posições. Planos para criação do (in)comum (2012), Nós (2011) e Retrato do Outro (2009); e o projeto Laboratório das Artes do Corpo (2011, 2012).
Ressignificar a dança e seus propósitos é um desafio com o qual os artistas da dança se defrontam ao optar por uma vertente investigativa e experimental, para que a arte satisfaça de fato o seu papel de disponibilizar, ao indivíduo, dispositivos de percepção que o faça se inteirar com a sua própria existência e tudo a sua volta, tal como compreendê-la melhor, dando outros sentidos à vida. O projeto ao qual “Auto-Retrato” dá sentido e significado, ressurge num contexto em que a necessidade artística de produzir material transformador de pensamento e da percepção resiste aos meios escassos de sobrevivência do profissional da dança. O objetivo é um fazer artístico em que o foco não é o ato de se exibir e de mostrar algo que já está pronto e fechado, mas volta-se a conduta de partilhar e compor junto com o público, pensamentos que emergem da experimentação e da investigação em dança.
FICHA TÉCNICA
Concepção e Direção: Jussara Xavier
Intérprete-criadora: Erika Rosendo
Obras e coreógrafos citados: Tchibum (2014) e Me dê sua mão (2020) de Alan Keller;
Éramos 5 num 5×5 na Figueiredo Magalhães (2005) e Não quero falar sobre isso agora
(2006) de Clébio Oliveira; “Em solo” (2006) de Erika Rosendo.
Produção executiva: Erika Rosendo e Jussara Xavier
Produção SC: Leticia Souza
Produção MG: Allan Keller
Produção RN: Celso Filho
Designer: Gabriel Figueiredo
Assessoria de imprensa: Serginho de Almeida
Duração aproximada: 45 min.
Classificação: Livre para todos os públicos
Realização: Projeto contemplado pelo Prêmio Funarte Circulação e Difusão da Dança –
2022.
QUEM É ERIKA ROSENDO
Nascida em Natal (RN) e residente em Garuva (SC), Erika Rosendo chega aos 20 anos de carreira, atuando na área da dança como professora instrutora de dança, bailarina, intérprete, criadora, ensaiadora e assistente de direção. Em Belo Horizonte (MG), trabalhou como professora de Dança Contemporânea na escola do Grupo Corpo – Corpo Escola de Dança; e foi ensaiadora do Grupo Sala B, dirigido por Fernando de Castro. Atuou como bailarina do Grupo Primeiro Ato, com direção de Suely Machado, e integrou a equipe de professores do Primeiro Ato Centro de Dança. Atualmente é assistente de coreografia da Paraopeba Cia. de Dança e Cia. Jovem de Paraopeba, com direção de Alan Keller e integra o Coletivo MINA, com os parceiros Maxmiler e Alan Keller. Em Joinville (SC), formou-se no curso técnico de Dança Contemporânea na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil (2007) e, em seguida, integrou o corpo docente da mesma instituição, ministrando aulas de Dança Contemporânea e Danças Populares Brasileiras. Construiu uma trilogia de espetáculos solo, sendo eles “Auto-retrato” (2008), “Retrato do outro” (2009) e “Nós – acontecimentos da dança e vida contemporânea” (2011), com direção de Jussara Xavier, que integraram a programação de Festivais Nacionais e Internacionais de Dança. Também atuou como bailarina e coreógrafa da AMA Cia. de Dança. Recebeu prêmio de Melhor Bailarina no Festival de Dança de Joinville em 2008, com a coreografia “Em Solo”, de sua autoria. Em Natal (RN), iniciou seus estudos de dança na Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão (EDTAM), ingressando na Cia. de Dança do Teatro Alberto Maranhão de 2001 a 2006. Também atuou como professora na EDTAM.
Informações do evento
Datas e Horários:
12 de abril de 2023
19:00 às 20:00 -
Quarta-Feira
Entrada Gratuita
Classificações: livre
Acessibilidade: Sem Acessibilidade
Formato do Evento: Presencial
Local: Centro de Cultura CASEC
Endereço: Rua Antônio Cândido da Rocha Mascarenhas, 217 - Paraopeba / MG - 35774-000
Localização: