Crédito da foto: ATO II: Aqui, Ainda (Crédito: Leidiane Bergo)

 Fruto do Projeto Não Vão Nos Matar Agora Porque Ainda Estamos Aqui, espetáculo integra a Trilogia Afetos Negros e faz pré-estreia dia 19/10 (domingo), no Teatro Municipal Humberto Sinibaldi Neto, em São José do Rio Preto, interior paulista

Encerrando o Projeto Não Vão Nos Matar Agora Porque Ainda Estamos Aqui, o artista da dança Mayk Ricardo realiza pré-estreia gratuita do espetáculo “ATO II: Aqui, Ainda”, no qual assina direção artística e coreográfica e contracena com a dançarina Carol Cof. A sessão é dia 19 de outubro, domingo, às 19h, no Teatro Municipal Humberto Sinibaldi Neto, em São José do Rio Preto, interior paulista, com tradução em Libras e audiodescrição.

Segunda parte da Trilogia Afetos Negros, por meio da qual Mayk Ricardo investiga o amor como forma de resistência e como estratégia diante das violências que atravessam cotidianamente os corpos negros, “ATO II: Aqui, Ainda” é uma criação dele em parceria com Carol Cof, com colaboração dramatúrgica de Anna Claudia Magalhães.

A obra apresenta dois corpos negros em um encontro para refletir sobre o amor como ética de vida — uma força que sustenta e fortalece existências negras, abrindo caminhos para as próximas gerações. De mãos dadas, resistem ao caos, à incomunicabilidade e à velocidade do tempo, reafirmando a importância da presença afetiva e da escuta. Na cena, os corpos buscam reconexão consigo e com o outro, em um movimento atravessado pelo afeto em meio às violências cotidianas. Cada gesto é permanência, cada toque é cuidado, cada encontro é sobrevivência.

Para provocar cenicamente o trabalho, a dupla de intérpretes-criadores convidou a diretora, atriz, arte educadora e psicóloga Beta Cunha, colaboradora da pesquisa desde seu início. A preparação corporal é de Ícaro Negroni, também responsável pelo desenho de luz. Leonardo Bauab assina a cenografia; Cairo Francisco e Nesk Beats, em colaboração com o elenco, a trilha sonora; e Vinicius Xavier, o figurino.

Sobre a montagem

Coreograficamente, o trabalho se constrói a partir do pulso e do ritmo: contrações, espasmos, tremores e pausas revelam o colapso e a persistência desses corpos. A fisicalidade alterna entre densidade e leveza, ruído e silêncio, buscando outras lógicas de movimento no encontro. Como no kintsugi, técnica japonesa de reparar cerâmicas com ouro, o trabalho assume suas fissuras como parte da beleza e da história.

O espaço cênico reflete essa travessia entre amor e desastre. Elementos como papel laminado criam uma ambiência mutante, ora festiva, ora caótica, evocando os contrastes da existência. A luz em tons de azul e vermelho pulsa como o coração, enquanto a trilha sonora — parte composta ao vivo pelos próprios bailarinos com loops, ruídos e cacofonias — transforma o som do caos em música. Já o figurino acompanha a dramaturgia e contrasta com o peso das histórias inscritas nos corpos, reafirmando o gesto como lugar de permanência, amor e cuidado.

“Em cena, o amor se torna movimento, o afeto vira linguagem e a permanência, um ato de resistência — uma espécie de kintsugi afetivo, em que as cicatrizes brilham como marcas da vida que insiste”, reflete Mayk, que desde 2020 vem consolidando sua trajetória como artista independente marcada pela colaboração e pela criação em coletivo, a partir de suas vivências enquanto corpo preto no mundo.

Sobre a trilogia

A Trilogia Afetos Negros reflete sobre os conflitos e negociações das posições sociais ocupadas por esses corpos e propõe uma imersão nas afetividades de pessoas racializadas. “O gesto é perguntar: o que nos move, nos subleva e nos mantém íntegros diante das opressões? Ou ainda: como resgatar humanidade e dignidade em tempos tão hostis, afirmando a sutileza, a alegria e o amor como ética de vida e potência política?”, propõe o criador.

O espetáculo solo “TENHA CUIDADO! É o meu coração” (2024) inaugurou a trilogia, inspirado em pensadores como bell hooks e Achille Mbembe, em suas próprias experiências afetivas e na biologia do coração (órgão vital, símbolo dos sentimentos e responsável por bombear vida ao corpo). A obra propôs uma autoavaliação sensível para discutir os atravessamentos estéticos, políticos e sociais que moldam a forma como se relaciona consigo próprio e entende o amor em sua vida.

No atual projeto, “Não Vão Nos Matar Agora Porque Ainda Estamos Aqui”, Mayk Ricardo parte do livro “Ñ Vão Nos Matar Agora”, da escritora e artista visual brasileira Jota Mombaça, para pensar horizontes que reafirmam a importância de existir e performar em coletivo mesmo em meio às feridas coloniais.

Ao longo de seis meses, a pesquisa desdobrou-se na ação performática “APESAR DE TUDO”, na qual os artistas foram para as ruas coletar histórias de amor que, posteriormente, seriam utilizadas para a criação do trabalho final. Também contou com um ciclo de oficinas de dança contemporânea e danças urbanas na Casa Afro SP e no Centro de Convivência da Juventude (CCJ), bem como a edição “Levantes” do Sarau Versos Que Te Fiz.

“’Não Vão Nos Matar Agora Porque Ainda Estamos Aqui’ busca abrir brechas de permanência e sobrevivência, sustentando corpos negros em um ambiente marcado pela aceleração do tempo, pela falta de empatia e pela ausência de amor”, fala o artista.

O projeto foi contemplado pela PNAB (Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura), São José do Rio Preto, na modalidade produção de obras artísticas.

Sobre Mayk Ricardo

Biólogo e artista da dança desde 2005, Mayk Ricardo atua também em produção cultural. Desde 2020, tem consolidado sua trajetória como artista independente, marcada pela colaboração e pela criação em coletivo, a partir de suas vivências enquanto corpo preto no mundo. Entre seus outros trabalhos, destacam-se a vídeo-dança “su.jei.to” (Prêmio Funarte RespirArte), a pesquisa “Movimento-afeto: dançando histórias de amor” (Prêmio Nelson Seixas 2021 e 2022) e o experimento cênico “OUTROS NAVIOS: danças para não morrer” (comissionado pelo Sesc Rio Preto e contemplado pelo ProAC PNAB SP – 27/2024). Baseado entre São Paulo e São José do Rio Preto (SP), soma colaborações com diversos artistas, como na performance “Cartas ao mundo”, dirigida por Bia Lessa para o Sesc Avenida Paulista, e nos espetáculos “Transe em trópico” e “Florestar: nenhum lugar é fora”, do Núcleo Cinematográfico de Dança. Assina a direção de movimento do espetáculo “BOI MATERIAL”, da Cênica (São José do Rio Preto), com direção de Pedro Kosovski.

Sobre Carol Cof

Multiartista, dançarina, coreógrafa e estilista criadora da marca Made by COF. Seus estudos e criações tem como base as culturas pretas e urbanas como o Hip Hop e o Funk. Dançarina há 15 anos, o primeiro contato com a dança foi na infância em um projeto social. Participou do projeto qualificação em dança com o grupo Divas, na cidade de Assis. Trabalhou com artistas como Tropkillaz e Racionais MCs. Atualmente, é diretora e coreógrafa do grupo de danças urbanas “SAUCE”. Trabalha em um projeto social e ministra aulas de dança para adultos e crianças.

Sobre Anna Claudia Magalhães

Graduada em Licenciatura em Letras pela Unesp São José do Rio Preto, onde reside. Artista multimídia e arte-educadora, suas produções e mediações passam pela escrita, arte visual e performance. Principais publicações escritas: “Baiacu” (2018), livro de artes coletivo editado por Laerte e Angeli; “Pororoca” (2023), coescrito com Carolina Capelli; “Sala de Espera” (2020), dramaturgia coletiva pela Cênica; e “Bitita, para não esquecer” (2022), dramaturgia pela Cênica. Suas criações e discussões incluem (também) questões de gênero e raça, pois acredita que a arte é a potência para as transformações sociais.

 

Sinopse – “ATO II: Aqui, Ainda”

Se não pudermos consertar o que foi quebrado, o que acontece?

Dois corpos negros se encontram, buscando no amor uma força capaz de sustentar e fortalecer suas existências em um mundo marcado pela violência, pela incomunicabilidade e pela falta de afeto.

Entre silêncios, gestos e toques, reconhecem na quebra uma maneira de estarem juntos. Como no Kintsugi, onde as rachaduras se tornam ouro, esses corpos se refazem um no outro, costurando suas feridas com cuidado para seguir, de mãos dadas, como uma atitude de resistência.

Aqui, ainda.

 

Ficha técnica – “ATO II: Aqui, Ainda”

Direção artística e coreográfica: Mayk Ricardo | Criação e performance: Carol Cof e Mayk Ricardo | Colaboração dramatúrgica: Anna Claudia Magalhães | Provocação cênica: Beta Cunha | Preparação corporal: Ícaro Negroni | Trilha sonora: Nesk Beats e Cairo Francisco em colaboração com o elenco | Desenho de luz: Ícaro Negroni | Operação de luz: Reni Trombi | Cenografia: Leonardo Bauab | Figurino: Vinicius Xavier | Costureira: Dona Vergínia | Videomaker: Gui Di Curzio | Identidade visual e design gráfico: juny kp! | Interpretação em Libras: Barbara Moura | Audiodescrição: Milena Bertoni | Assessoria de imprensa: Graziela Delalibera | Produção: Andrea Capelli | Assistência de produção: E Su Mayê

Informações do evento

Datas e Horários:
19 de outubro de 2025 19:00 às 20:00 - Domingo

Entrada Gratuita

Classificações: 14 anos

Acessibilidade: Com Acessibilidade

Capacidade de pessoas: 60

Telefone para contato: (17) 3201-3830

Site: https://drive.google.com/drive/folders/1DcJLqBqP2QhQiR3q2IajKl4R3C1guRKZ https://www.instagram.com/tenhacuidado_/

E-mail: [email protected]

Formato do Evento: Presencial

Local: Teatro Municipal Humberto Sinibaldi Neto

Endereço: Avenida Brigadeiro Faria Lima, 5.381 - São José do Rio Preto / SP - 15090-000

Localização: