ACERVO DANÇARINO

Inspirados pela poeta, ensaísta, acadêmica e dramaturga Leda Maria Martins, o Grupo Fragmento Urbano debate e traz à cena de dança o corpo – preto, indígena, periférico – como lugar da memória, como o espaço em que historicamente foi possível inscrever narrativas, marcas, cicatrizes, sotaques, gestos e signos. A partir desse conceito, o coletivo da periferia da capital paulista lança dia 24 de janeiro, terça-feira, às 20h (em um encontro virtual) um novo site que abrigará o Acervo Dançarino, um acervo digital com a pesquisa de linguagem desenvolvida ao longo dos 13 anos de existência do Fragmento Urbano.

O lançamento e a disponibilização gratuita do Acervo Dançarino integram o projeto Próximos Passos – pesquisa, montagem e difusão de um acervo dançarino contemplado pela 30ª edição do Fomento Municipal à Dança de São Paulo. O novo site reúne documentos, registros de processos em vídeos, relatórios, diários de bordo, fotografias, escritas, projetos, cartazes, depoimentos, documentário, web-série, um livro que aponta os primeiros passos para essa organização metodológica, e mais recentemente lives e formações virtuais.

De acordo Douglas Iesus, diretor do Grupo Fragmento Urbano, o avanço de uma comunidade cientifica, ou de uma comunidade artística, depende de celebrar suas memórias. “Para que esta celebração ocorra, é preciso acesso aos documentos arquivísticos e bibliográficos, constituindo conjuntos orgânicos de onde se possa criar novas tecnologias. O grupo Fragmento Urbano chega em um estágio no qual sentimos a necessidade de engajar e dar conformidade, densidade, ao que foi e tem sido esse processo de 13 anos em pesquisa na cidade de São Paulo. Trata-se de uma necessidade, mas também de um compromisso, uma responsabilidade”, pontua ele.

Um acervo dançarino

É noticiado e divulgado, por diversos pesquisadores das culturas negras brasileiras, que muitos dos arquivos de corporeidades afro-diaspóricas estão catalogados e arquivados em acervos fora do Brasil, fora das mãos dos territórios e dos próprios criadores.

A partir da própria origem, de um grupo de dança contemporânea que possui pesquisa de linguagem própria a partir dos saberes afro-indígenas e localizado geograficamente na periferia da cidade de São Paulo, o Fragmento Urbano entende que a função para esse acervo será a continuidade de uma historicidade em dança produzida em territórios não hegemônicos. 

“É o que temos feito, incessantemente, em respeito e compromisso com a continuidade da luta de quem veio antes, são projetos de contra-apagamento, na busca de um apelo radical a dignidade e de disseminar saberes-corpos-palavras na tentativa de suturar as feridas abertas por todo esse processo colonial. Desta maneira, produzindo e propagando sabedorias provenientes da periferia, a respeito do campo de conhecimento que é a dança, contribuímos na reescrita constante da nossa história, além de seguir consolidando a trajetória do Fragmento Urbano na cena da dança nacional”, destaca Douglas Iesus.

Sobre o Grupo Fragmento Urbano

Grupo de dança que nasceu em 2009 da inquietude de jovens advindos da periferia da Zona Leste da cidade de São Paulo, que traziam como ponto de interesse comum a criação de espetáculos a partir da linguagem das Danças Urbanas (Hip Hop) para intervenção urbana. Compreendendo a dança como um campo de pesquisa amplo e profundo, atualmente as pesquisas para criação se concentram na investigação de uma corporeidade periférica, afro-diaspórica, ameríndia, plural e potente. O grupo tem em seu histórico cinco montagens de intervenção urbana: Breaking de Repente (VAI -2010/ Proac Hip Hop 2010); Dança por Correio (2013 – em parceria com o Grupo Zumb.Boys), Duoelo (2013); Relações Possíveis (2014) e Encruzilhada (2016) e um espetáculo para caixa preta Chão que me Cabe (2014 – em parceria com o NUCCA). Trata-se de um princípio do grupo a circulação pelos mais variados locais de zona urbana, vivenciando em cada um deles o público transeunte distinto, pois o espetáculo é fomentador da pesquisa continuada do grupo que busca encontrar na heterogeneidade social, étnica e cultural estímulo para a composição.

Site: fragmentourbano.com.br.

Instagram: @_fragmentourbano
FacebooK: @FragmentoUrbanoDanca